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Falácia ecológica é o nome atribuído aos problemas associados ao ato de interpretar como válidas a nível desagregado afirmações feitas a um nível mais agregado. Esse fenômeno é mais observado nas ciências sociais, onde o nome foi conferido. Não tem nada a ver com a ecologia mas pode ser associado a problemas nas áreas biológicas. Acredito que o nome tenha sido utilizado para fazer referência a grupos de indivíduos.
Voltando ao problema em si, porque não se deve desagregar afirmações agregadas? Ao invés de uma explicação técnica, prefiro tratar de outro problema similar onde efeito similar é observado de forma ainda mais dramática. Trata-se do paradoxo de Simpson, onde não apenas resultados desagregados não coincidem com os resultados agregados mas vão além, apresentando resultados opostos!
Uma forma bastante esclarecedora de visualizar o paradoxo de Simpson é dada no excelente livro Probability & Statistics, de Morris DeGroot e Mark Schervish. Vamos então ao exemplo numérico dado nesse livro.
Considere que os pacientes em um estudo médico fictício se distribuiram conforme a tabela abaixo
Todos os pacientes
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Houve melhora
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Não houve melhora
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Percentagem melhora
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Novo tratamento
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20
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20
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50%
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Tratamento padrão
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24
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16
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60%
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Olhando para a tabela acima, parece haver indícios que o novo tratamento não introduz vantagem com respeito ao tratamento padrão.
Suponha agora que os mesmos dados são desagregados por sexo e fornecem as tabelas
Homens
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Houve melhora
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Não houve melhora
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Percentagem melhora
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Novo tratamento
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12 | 18 |
40%
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Tratamento padrão
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3 | 7 |
30%
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Mulheres
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Houve melhora
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Não houve melhora
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Percentagem melhora
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Novo tratamento
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8 | 2 |
80%
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Tratamento padrão
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21 | 9 |
70%
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Antes de interpretar o resultado dessas tabelas desagregadas, vale reforçar que elas foram construídas a partir da tabela agregada por sexo. Por exemplo, os 12 homens e as 8 mulheres que melhoraram com o novo tratamento perfazem o total de 20 pessoas que melhoraram com o novo tratamento. O mesmo vale para todas as outras células da tabela.
Agora, vamos às interpretações....Fica claro da tabela para os homens e da tabela para as mulheres que o novo tratamento apresenta benefícios com respeito ao tratamento padrão. Como é possível então que o total de pacientes aponta na direção oposta que os resultados obtidos com os homens e com as mulheres?
Antes disso, vale notar alguns aspectos importantes dos dados acima. A proporção de homens que foram submetidos ao novo tratamento é muito maior que a a proporção dos que foram submetidos ao tratamento padrão. Com as mulheres acontece o oposto: a maior proporção está associada ao tratamento padrão. Mais importante é que embora ambos os sexos mostrem melhora maior com o novo tratamento, eles o fazem de forma muito diferente. As porcentagens de melhora com qualquer tratamento são muito menores para os homens do que para as mulheres. Isso mostra que o sexo tem um efeito mais importante nos resultados obtidos que o tipo de tratamento.
Todos esses desbalanceamentos acabam fazendo com que estranhos resultados sejam obtidos ao agregar os dados dos 2 sexos. Mas o pior é que a comparação agregada ignorou o efeito mais importante, que é o do sexo. Essa sucessão de equívocos acabaram gerando o resultado que a princípio parece paradoxal mas que, numa análise mais detalhada, se mostra bastante plausível.
Excelente explicação
ResponderExcluirMuito boa a explicação !!!
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