Essa não é minha 1a postagem sobre o tema (relembre aqui) e espero que não seja a última. Tenho uma ligação particularmente forte com os eventos mundiais da comunidade Bayesiana. Essa ligação começou em 1983, quando ainda nem existia a existia a ISBA. Mas já havia uma forte coesão entre os Bayesianos daquela época. Isso era bem mais compreensível por se tratarem de poucas dezenas de pesquisadores. Naquela época ainda havia um preconceito contra a pesquisa realizada nessa área. Em função dessa coesão, em parte fomentada pela sensação de um grupo discriminado, um grupo de então jovens e promissores pesquisadores propôs a realização de um encontro mundial Bayesiano em 1980 em Valencia, na Espanha.
A liderança advinha dos professores José Miguel Bernardo e Adrian Smith, acompanhados de seu orientador, o lendário Dennis Lindley, todos ligados à Inglaterra e complementada por Morris DeGroot, representando a comunidade norte-americana. Esse mítico encontro teve poucas dezenas de participantes mas foi muito útil para reforçar o senso de pertencimento entre membros do Bayesianismo. Vários outros encontros internacionais de Valencia foram então realizados com espaço de 3 a 4 anos, importante para decantar e disseminar as idéias e projetos lá difundidos. Participei de vários desses encontros, a partir do 2o, realizado em 1983. Naquele momento eu estava me preparando para iniciar meu doutorado em Estatística na Inglaterra e fiquei maravilhado com tudo que vi e com aquele senso de comunidade.
Lá pelo 8o ou 9o encontro em torno na virada do século XXI, a comunidade Bayesiana tinha crescido o suficiente para poder se organizar em torno de uma sociedade fortemente estruturada e ter seus próprios encontros. Foi em torno dessa época que surgiu a ISBA e seus encontros mundiais, realizados com frequência bi-anual. A comunidade já havia crescido muito e o senso de uma grande família já havia se perdido. Em contraponto, isso significou que a família deu lugar a uma comunidade propriamente dita com diversos grupos de pesquisa distribuídos pelas mais diversas áreas do Bayesiano, que brotavam das mais diversas localidades do planeta. Felizmente, tive a oportunidade e a honra de ser um dos palestrantes do 8o (penúltimo) encontro de Valencia.
Paralelamente, já havia sido iniciada a realização dos encontros mundiais da ISBA, que acabaram exaurindo dos encontros de Valencia a aura de maior centro de reunião de Bayesianos do mundo, e eles acabaram terminados na sua 9a edição. Também tive a honra de ser palestrante do encontro mundial da ISBA de 2004. Só que ai a honra foi muito maior por ter sido o conferencista de abertura daquele evento. Guardo essa distinção com muito orgulho até os dias de hoje.
Quis o destino que passadas exatas 2 décadas, fui novamente convidado para ser um dos palestrantes convidados do encontro mundial deste ano, a ser realizado na deslumbrante cidade de Veneza, na Itália. (A famosa ponte de Rialto que abre essa postagem é apenas uma das provas disso.) A distinção recebida com esse convite segue sendo muito lisonjeira por motivos óbvios. A sociedade Bayesiana consiste agora de alguns milhares de pesquisadores espalhados pelo mundo e o evento adquiriu proporções admiráveis. O número de palestrantes convidados entretanto não passa de 10. Além disso, fui honrado como um dos 4 Foundational Lecturers deste evento. A idéia é que esse tipo de lecturer (ou palestrante) tenha tido uma relevante contribuição mais perene e continuada dentro de uma ou algumas áreas da Estatística Bayesiana.
Só o convite com essa distinção é um grande privilégio para mim nesse estágio de minha carreira. Procurarei fazer o meu melhor durante minha palestra e justificar todo esse reconhecimento. Mas tudo que vier a partir desse momento é um enorme lucro para mim!
Informações completas sobre o ISBA2024 podem ser obtidas aqui.