terça-feira, 28 de maio de 2013

As chances de Angelina Jolie

Angelina Jolie e sua mãe (REUTERS/Fred Prouser)

Há 2 semanas, a mídia mundial se concentrou num anúncio público que a atriz americano Angelina Jolie fez. Com base em um prognóstico de 87% de chances de desenvolver cancer de mama, a atriz informou ao mundo ter tomado uma decisão radical e realizado uma mastectomia, removendo completamente seus seios. O que chamou a atenção nessa decisão foi o fato de que ela não tinha até o momento da operação nenhum indício de cancer no seu corpo. Deve ter pesado na sua decisão o fato de sua mãe ter também sido vítima de cancer e ter falecido por conta desse cancer com 56 anos. [Numa coincidência temporal, a tia de Angelina, irmã de sua mãe, teve ontem aos 61 anos o mesmo triste destino.] Além disso, fomos informados que as chances de Angelina ter cancer após a remoção dos seios cairia para 5% 

A pergunta que fica é se 87% de chances é um número alto suficiente para tomar medidas radicais como a que ela tomou, removendo órgãos até então sãos do seu organismo? Alguns argumentam que o efeito psicológico associado à essa alta probabilidade faria com que sua qualidade de vida fosse muito deteriorada. Outros argumentam que não se deve remover órgãos sadios dos nossos organismos.  

Independente de ela ter tomado a decisão correta ou não, vale destacar o papel fundamental do cálculo de probabilidades nesse assunto. Outro ponto a ser destacado é a importância da análise do risco associado ao problema. Como já dissemos antes, as decisões são tomadas com base em probabilidades mas também em uma avaliação das possíveis consequências de nossos atos. Uma jovem modelo talvez pensasse diferente e preferisse monitorar com frequência sua saúde para intervir cirurgicamente apenas após constatar a presença da doença. Uma senhora de 60 anos talvez não.

A atitude de Angelina foi pensada. Ela fez isso para aumentar a conscientização do público para a importância da realização de exames preventivos e talvez também para desmistificar a importância dos seios na mulher. Sendo uma pessoa pública mundialmente, ela sabe do efeito que sua atitude pode ter em milhares ou talvez milhões de pessoas ao redor do mundo. Sua atitude pode fazer com que pacientes e até mesmo médicos revejam suas utilidades. Já vimos na postagem sobre como tomar decisões (dia 11/12/2012) que as decisões mudam quando são alteradas as utilidades ou probabilidades. As recomendações médicas podem muito bem mudar em muitos casos a partir do seu pronunciamento.

Claro que existe uma série de outras questões associadas a essa divulgação. Uma delas é o alto preço do exame preventivo do tipo de cancer que acometeu a mãe de Angelina. Outra questão é sobre o tipo de envolvimento do centro onde ela se tratou com a atitude que ela tomou. Como essas questões e outras similares escapam ao escopo desse blog, preferi não me ater a elas.

Em suma, o cálculo das probabilidades é um aspecto fundamental mas não é suficiente para a tomada de decisão. Os mesmos 87% de chances poderiam levar outra pessoa a uma outra decisão pois as utilidades associadas às possíveis ações são diferentes. De todos modos, desejamos muita saúde à Angelina e que ela continue brilhando nas telas de cinema.

Um comentário:

  1. Segue o link para o artigo que deu a base academica para a decisao dela: http://jco.ascopubs.org/content/28/2/222.short

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