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Poucos anos atrás, fui perguntado: qual o cientista/estatístico que você mais admira? Essa pergunta foi feita pela seção dos alunos do boletim trimestral da International Society of Bayesian Analysis (ISBA) a um painel de pesquisadores. Depois de hesitar e remoer sobre a pergunta por 1 semana, minha resposta foi publicada no boletim 18(1) do ISBA, de março de 2011, e eu a traduzo abaixo
"Esta é certamente uma pergunta muito difícil, pois há muitos cientistas que mudaram tanto a forma como o mundo é quanto e a nossa maneira de pensar sobre ele. Não há como evitar a admiração a pessoas como Galilei, Newton, Gauss, Einstein, Freud por sua imensa contribuição à ciência e à humanidade.
Eu acho que a proeminência da Estatística na ciência é algumas ordens de magnitude menor do que outros ramos do saber. Isso pode estar relacionado com a idade relativamente jovem que tem, quando comparada a outros campos. Mas as futuras gerações irão testemunhar quão importante a Estatística será na vida cotidiana. Apesar disso, prefiro citar um de nós (estatísticos). Em primeiro lugar, porque nós devemos louvar a nós mesmos e em segundo lugar porque estas são as pessoas com as quais estamos mais familiarizados a respeito da sua contribuição para a Ciência.
Temos em Estatística uma lista longa e gloriosa de nomes que mudaram a forma como a Ciência Estatística é, com uma quantidade enorme de trabalho em prol da nossa disciplina. E devemos ter orgulho deles! A lista deve começar com Fisher e deve incluir nomes de Pearson, Neyman, Jeffreys, Rao, Lindley, e por último mas não menos importante, o reverendo Thomas Bayes. Estou certamente esquecendo alguns nomes, mas estes são os nomes que vieram mais facilmente à minha mente e isso deve dizer algo sobre as suas contribuições.
Apesar da presença de estatísticos clássicos e freqüentista na lista acima, eu decidi eleger um freqüentista como o estatístico de minha maior admiração. Existem algumas razões para fazê-lo: a) eu posso ser demitido dessa posição no boletim bo ISBA mais facilmente (e ninguém iria reclamar)ç b) eu posso agitar este foro de discussão, acrescentando alguma controvérsiaç c) destacando o que está faltando entre nós Bayesianos podemos visar mitigar essa aparente deficiência.
Boas razões para admirar um cientista são a importância de sua contribuição científica ao longo de muitas décadas, mesmo depois de atingir a idade de aposentadoria e com contribuições importantes espalhadas por diversas áreas da Estatística. A importância de uma contribuição para a pesquisa pode estar associada com a abertura de novas maneiras de ver as coisas ou coisas novas para ver, mas também devido à disseminação de idéias para outros estatísticos e cientistas, em geral, por meio de livros científicos em todos os níveis.
Por estas razões, decidi destacar Sir David Cox. Suas áreas de pesquisa abrangem uma diversidade que é muito raramente vista e incluem as áreas de Fundamentos de Inferência, Modelos de Regressão, Análise de Sobrevivência, Planejamento de Experimentos, Processos Estocásticos e Séries Temporais. A lista completa de suas publicações inclui cerca de 17 livros e mais de 300 artigos. Mais importante do que a quantidade e a diversidade é a relevância do seu trabalho para todas as áreas que ele tocou. Minha própria tese de Ph.D. é um testemunho disso, uma vez que girou em torno de extensões de seu artigo seminal, publicado com discussão na JRSSB em 1972, sobre modelos de regressão e tábuas de mortalidade. Cox comemorou seu aniversário de 80 anos em 2004. Sua imparável luta por trabalho (sempre de qualidade superior) o fez publicar um artigo Biometrika e dois artigos na JRSSB naquele ano!
Apesar de sua firme adesão ao paradigma clássico ou freqüentista, é possível encontrar fortes ligações Bayesianas em seu trabalho. Uma de suas principais contribuições para a Estatística é hoje conhecida como processos de Cox. Essa idéia surgiu em um artigo que tem meio século de idade, mas ainda é muito popular. Este trabalho propõe um modelo com uma componente importante que pode (ou deve) ser interpretada como uma distribuição a priori.
Seu CV lista mais de 20 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades ao redor do mundo e eu me orgulho de pertencer a uma deles. Quando UFRJ concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa em 2000 (ver foto abaixo), o Prof. Ricardo Gatass, então Pro-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRJ, disse que estava muito contente por conhecer a pessoa por trás de muitos dos artigos que eram importantes para o seu próprio trabalho de pesquisa. Isso pode não parecer muito, dado que o trabalho de Cox abrange muitas áreas da Estatística em que trabalhamos hoje ... mas o Pro-Reitor é um biofísico!
Ricardo Gatass, David Cox, Basilio Pereira e eu (arquivo pessoal)
Eu, pessoalmente, só falei com o professor Cox em algumas poucas ocasiões. Ele me tratou cordialmente e sempre com interesse no projeto em discussão. Fora isso, eu sei muito pouco de sua vida pessoal. Mas seu comprometimento contínuo e incansável com o trabalho (sempre em altíssimo nível) são dignos de admiração e deve ser tomado como exemplo para todos aqueles que almejam deixar sua marca na Estatística."
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