terça-feira, 8 de abril de 2014

O IPEA errou... mas não foi o único!

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Causou furor nacional a recente divulgação de alguns resultados de sua pesquisa do IPEA sobre relação de nossa sociedade com comportamento sexual e mereceu até a postagem da semana passada neste blog. A divulgação dos resultados mobilizou vários grupos sociais e até a Presidente Dilma se manifestou sobre o assunto. Campanhas foram criadas nas redes sociais e manifestações de rua foram programadas.

Não é que os resultados mais polêmicos estavam errados, de acordo com errata divulgada pelo IPEA no dia 04 de abril (sexta feira passada). Aparentemente, isso foi causado por uma transposição equivocada de valores de uma coluna para outras. Assim, a opção discordo completamente foi entendida na hora de tabulação dos resultados como concordo completamente e vice-versa. Isso ocasionou uma inversão total nas proporções medidas.

Passado o episódio, ficam algumas perguntas que trazem lições que para digerirmos:
  1. será necessário promover um movimento de histeria coletiva baseado em apenas poucas respostas de um extenso questionário com todos os problemas que sabemos existir em avaliações subjetivas?                                                                             As respostas às outras 20 e tantas frases do mesmo questionário já indicavam que a sociedade brasileira não é tão conservadora quanto apressadamente se supos baseado em apenas 2 frases. Os dados já indicavam na direção oposta, como postei semana passada.
  2. será que cabe ao IPEA, um instituto voltado para pesquisa ECONÔMICA aplicada, fazer esse tipo de levantamento de cunho eminentemente social, com pouco conteudo econômico?                                                                                                         Já ministrei treinamento (de Estatística, claro) para pesquisadores do IPEA e eles acompanharam adequadamente todo o desenvolvimento matemático necessário. Isso não surpreende pois essa é a formação esperada de um técnico de assuntos econômicos. Ingressar por um ramo que pode até estar ligado à Economia mas é muito mais voltado para assuntos sociais requer treinamento e uma longa cultura nessa área. A forma de elaboração das frases já indicava não ser esse o caso do IPEA. Agora vemos que o manuseio da informação de questionários, que é muito diferente da materia bruta dos dados econômicos tipicamente usados em análises econômicas, também gera dificuldades adicionais. Essa mudança de rota do IPEA se delineou mais claramente durante os governos do PT e não é unanimidade nem mesmo dentro do quadro técnico do IPEA. Com isso, não quero de forma nenhuma ir contra a necessidade de serem feitos levantamentos de opinião de cunho social. Apenas questiono se é o IPEA o órgão que deveria realizar essa tarefa.
  3. será que eu mesmo não deveria ter sido mais cauteloso ao apostar todas minhas fichas numa redação erronea como a grande culpada pelos resultados?                 Recentemente, postei um texto falando sobre a Lei de Cromwell e quase defendi a obrigatoriedade dos estatísticos seguirem-na. Pois bem, eu mesmo não a segui neste epísódio ao descartar o evento possível (mas extremamente improvável) de erro na tabulação dos dados.
A grande lição que eu acho que fica para nós é de sempre sempre sempre olhar para os dados, de preferência com muita atenção. Eles dão as pistas de onde estará a verdade, o que quer que ela seja. O que ocorreu com esse questionário do IPEA não fugiu a essa regra.

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