terça-feira, 27 de maio de 2014

Qual o perfil do estatístico do Brasil? - parte II

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Gostaria agora de lidar com a pergunta deixada na parte I da postagem sobre esse assunto: uma vez definida a população alvo, quem deve preencher o questionário?

A propostas em curso fala em permitir que o questionário seja preenchido por que julgar que pertence à população alvo. Essa estratégia é bem intencionada e confia na idoneidade das pessoas; fica difícil garantir que quem preenche o questionário efetivamente pertence à população alvo da pesquisa. Note que esse problema tanto pode ocorrer por alguém intencionalmente querendo desvirtuar a pesquisa mas também por pessoas que inocentemente se julgam parte da população alvo (por estarem de alguma forma ligadas à comunidade estatística) mas na realidade não pertencem à essa população de acordo com os critérios previamente estabelecidos.

Além disso, os problemas já mencionados aqui que estão ligados à elaboração do questionário propriamente dito não podem ser ignorados. Uma série de cuidados devem ser tomados e o melhor profissional para tratar disso não é o estatístico. Tive acesso a uma versão preliminar do questionário e, apesar de leigo, enviei algumas sugestões para a equipe que o está organizando. Basicamente as minhas sugestões envolveram os pontos que destaquei na postagem sobre pesquisas sociais: clareza e imparcialidade dos enunciados.

Outro problema é como garantir que a população de pessoas que respondem aos questionários representa fielmente a população total? Se o questionário puder ser respondido por qualquer pessoa da população-alvo sem nenhuma restrição, fica claro que a amostra de respondentes provavelmente não será representativa da população total. Para começar, a amostra só conterá pessoas que viram a chamada para a pesquisa. Em segundo lugar, ela conterá apenas as apessoas mais propensas a investigar a chamada e visitar o local (site) onde o questionário se encontra. E essas pessoas não constituem uma amostra representativa da população alvo.

Algumas pessoas sustentam que ter uma amostra é melhor que não ter amostra nenhuma, mesmo ela não sendo representativa. A argumentação é que é possível corrigir os vícios da amostra após ela ser coletada. Não estou tão certo disso e, na melhor das hipóteses, essa correção não é uma tarefa simples. Como já falamos aqui, é sempre bom ter mais informação. Mas isso só é verdade se estivermos trabalhando com o modelo certo. Ter informação mas usá-la da maneira errada pode ser mais contraproducente que não ter informação. Mas isso é assunto para outra postagem.

Assim, ainda acho importante tentar ao máximo fazer com que a amostra seja o mais representativa da população alvo. Formas de resolver isso incluem:
  1. uma ampla campanha de divulgação do lançamento do questionário em todos os meios possíveis;
  2. garantia de que a informação será enviada em caráter confidencial e que não será possível identificar o candidato a partir das respostas por ele fornecidas;
  3. um questionário que não seja muito longo nem tenha quesitos muito longos de forma a desanimar parte dos entrevistados, inclusive aqueles que se dispuseram a começar a preenchê-lo.
Acredito que todos esses cuidados devam ser tomados pela equipe responsável. Levantamentos de cadastros dos profissionais formados pelos cursos de Estatística pelo país são fundamentais, bem como membros de listas de discussão e constante divulgação nelas da realização da pesquisa.

Nenhum desses procedimentos garante uma boa cobertura mas todos eles aumentam a chance de garantir boa representatividade da amostra, isto é, dar chances iguais para todos os profissionais de Estatística responderem. 

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