terça-feira, 19 de agosto de 2014

Medalha Fields, Olimpiadas de Matemática e os Kits de Estatística

www.abcmc.org.br/publique1/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=889&sid=5

Há exata uma semana atrás, fomos brindados com a grata notícia da premiação (inédita para latino-americanos) do carioca Artur Ávila com a Medalha Fields. Trata-se do prêmio mais importante da Matemática e, como não há Prêmio Nobel para a Matemática, muitos a comparam com esse prêmio. Existem diferenças importantes entre o Nobel e o Fields. Para começar o valor monetário do Nobel é cerca de 100 vezes superior. Além disso, o Nobel premia expoentes nas Ciências e nas Artes por realizações ao longo de sua vida enquanto o Fields premia apenas jovens com menos de 40 anos. Mas foi uma grande alegria para a comunidade matemática e científica nacional ver um dos nossos premiados. Nunca é tarde (embora seja doloroso) lembrar que o Brasil não possui nenhum Premio Nobel, diferente de vários outros países da América Latina.

Chamou-me a atenção o Artur Ávila ter dito que foi despertado para a Matemática a partir das Olimpíadas de Matemática. Essas competições vêm sendo realizadas já há algumas décadas pela Sociedade Brasileira de Matemática, numa belíssima iniciativa de divulgação e popularização de sua área. Seria muito bom se a Estatística pudesse tomar esse exemplo e começasse a se organizar nessa direção mas infelizmente estamos longe disso, como ilustro a seguir.

No mesmo dia do anúncio da premiação do Artur, recebi de minha colega Doris Fontes um kit de Estatística cujo propósito é divulgar idéias básicas de probabilidade e assim também cumprir papel de difusão de alguns conceitos básicos da nossa área. O kit contem material simples (ver figura acima) como dados, moedas, cilindros e painéis com bolas que circulam por canais até se depositar no fundo da estrutura e algumas instruções de como melhor utilizá-los. Tudo muito legal e cumprindo aquele papel que achamos importante para facilitar o acesso dos jovens do ensino médio à Estatística. O material do kit vem em um pequeno estojo de fácil manipulação e é vendido por valores bastante acessíveis.

Para minha surpresa (e tristeza), o nome do conjunto não é Kit de Estatística, como era de se esperar ou como gostaríamos. Ele se chama Kit de Microbiologia! O motivo é que ele foi desenvolvido pela equipe do Museu de Microbiologia da USP. Ele faz parte de uma série de 6 kits elaborados por esse museu, sendo que os outros 5 são diretamente ligados à experimentação microbiológica. Pode ser que eu esteja enganado (e até torço para isso) mas desconheço iniciativas como essa que tenham surgido no seio da comunidade estatística nacional. Isso é uma amostra do fosso que separa a área da Estatística para outras áreas mais estruturadas, como Matemática e Biologia.

É difícil prescrever como fazer uma área da Ciência trilhar caminhos exitosos mas é possível identificar a sua gênese. Invariavelmente está ligada à existência de pesquisadores talentosos, com visão de longo alcance e capacidade empreendedora. No caso da Matemática, essa trilha está fortemente ligada à criação do IMPA através de figuras lendárias como Mauricio Peixoto e Leopoldo Nachbin. Além do seu brilhantismo científico, eles souberam garimpar alunos brilhantes para continuar o desenvolvimento da pesquisa de qualidade em Matemática no Brasil. No caso da Microbiologia, aparece entre outros o nome de Isaías Raw, que não só formou e montou grupos de pesquisa como também se ocupou da disseminação da Ciência, quando os kits foram desenvolvidos. 

A Estatística brasileira ainda carece de personalidades como as mencionadas ,acima e também de inciativas como as Olimpíadas de Matemática ou os Kits de Estatística para poder deslanchar identificar novos talentos e recuperar o espaço perdido. A sociedade anseia pelo preenchimento desse espaço e cabe a todos interessados pela área fazer com que isso se transforme em realidade.

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