terça-feira, 10 de novembro de 2015

Manipulação de dados - parte II

www.surfacetemperatures.org/databank

Algum tempo atrás, falamos aqui sobre o tema do título. Obviamente, isso não é uma prerrogativa brasileira e ele volta à tona sempre quando o assunto desperta interesse intenso e tem uma complexidade razoável de forma a impedir análises definitivas de forma simples e inequívoca. Um tema com essas característica é o aquecimento global. Existem evidências apontando na direção de uma reversão ou diminuição do ritmo de modificação do clima no planeta a partir do início deste século. Isso tem sido objeto de acaloradas discussões no meio acadêmico, com reflexos imediatos nas políticas globais com respeito ao meio ambiente. O texto abaixo foi publicado do site da revista VEJA, descrevendo um incidente científico recente de suspeita de manipulação de dados, que chegou ao Congresso dos Estados Unidos.

O Comitê de Ciência e Tecnologia (CCT) do Congresso dos Estados Unidos abriu um painel para investigar se pesquisadores da agência oficial encarregada dos estudos sobre o clima manipularam dados para chegar à conclusão de que a temperatura da atmosfera continua subindo, contrariando outras pesquisas recentes nas quais foi identificada uma estabilização no chamado aquecimento global.
Lamar Smith, congressista republicano e chefe do comitê, quer averiguar se os técnicos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) omitiram informações e escolheram dados de maneira deliberada, em vez de trabalhar com isenção científica absoluta.
Outros estudos climáticos realizados nos últimos quinze anos, citados inclusive pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apontam para uma pausa no fenômeno de aquecimento do planeta. Tais estudos são frequentemente usados por Smith para criticar as políticas de Barack Obama para reduzir a emissão de gás de estufa.
A controvérsia diz respeito a um artigo produzido por um time do NOAA e publicado em junho pela revista Science. Nele, os autores argumentam que o aquecimento prosseguiu nos últimos quinze anos de maneira tão intensa quanto à observada no século passado. Mas existe a suspeita de que algumas estimativas foram aplicadas sem a consideração da margem de erro. Além disso, as boias de coleta de dados teriam sido criteriosamente escolhidas para fabricar o resultado esperado.
Além da contestação científica dos dados, a investigação do Congresso pretende questionar a politização da discussão técnica sobre o clima. Estudos recentes, feitos com a ajuda inclusive de psicólogos, indicam que, frequentemente, as conclusões de pesquisas alarmistas sobre o clima são diretamente influenciadas pelo próprio alarmismo de leigos vocalizado diariamente pela imprensa mundial. É como querer comprovar o que se deseja, no lugar de concluir cientificamente a partir de dados colhidos da maneira o mais isenta possível.
Se confirmada, a suposta manipulação de dados pela NOAA seria uma das mais graves da história da climatologia. A última, de 2009, foi descoberta depois do vazamento de e-mails de pesquisadores do IPCC. Phil Jones, então um respeitado cientista da entidade, dizia que havia aplicado um modelo de cálculo que "escondia o declínio" das temperaturas globais. Os estudos produzidos pelo IPCC apontavam também para o aumento do aquecimento global e faziam uma relação direta do fenômeno com as ações do homem. Na época, Jones foi a público para se retratar e reconheceu que não havia nenhum indicador concreto de que o globo estava esquentando de forma relevante desde 1995.
Não se pode ignorar que as emissões de dióxido de carbono aumentaram por causa da queima dos combustíveis fósseis, nem que a ação humana afeta o ambiente. No entanto, não é possível ainda ter certeza sobre quais são as reais dimensões das consequências desse fenômeno nas temperaturas do planeta. O papel fundamental de órgãos como o IPCC e a NOAA é estudar os dados técnicos e tratar as considerações de maneira isolada à da opinião pública ou das correntes ideológicas já existentes para dar respostas contundentes a essas incertezas.

É interessante notar que o trabalho que está sendo alvo de investigação por manipulação de dados apresenta uma contestação técnica baseada na possibilidade de uso indevido dos dados em análises anteriores. Uma visita ao site do CCT mostra que essa discussão está longe de encerrada. O congresso americano e a NOAA parecem estar em rota de colisão após a NOAA não ter enviado ao Congresso os dados que embasaram a sua análise. Segundo o site do congresso, a NOAA ignorou o pedido do Congresso e agora esse pedido foi feito de forma judicial. Aguardem mais capítulos... essa novela promete!

O link para a matéria da Veja é http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/congresso-americano-investiga-manipulacao-de-dados-para-provar-o-aquecimento-global

Um comentário:

  1. Olá Dani,
    a questão é bastante controversa…
    Sob a ótica determinística, a modelagem da movimentação da atmosfera e das massas de água dos oceanos pode ser feita por equações diferenciais não lineares - sabidamente sistemas caóticos, ou seja, sujeito às condições iniciais. Além disso, poderíamos pensar em sistemas determinísticos com equações diferenciais estocásticas, ou introduzir incerteza nos parâmetros dos modelos através de Simulação de Monte Carlo. Certa vez, num Congresso de Dinâmica, Controle e Caos (DINCON), assisti a uma palestra sobre o aquecimento global. O pesquisador coletou séries históricas de várias estações meteorológicas ao redor do mundo e propôs um modelo determinístico para tal. Ao final da apresentação concluiu que a temperatura da terra estava 0,5 grau centígrado acima. Não me contive e perguntei: "se você utilizasse o mesmo modelo determinístico com outras estações meteorológicas e/ou outras séries históricas, você tem certeza que obteria o mesmo valor?" Todos me olharam com espanto e o palestrante me respondeu que não tinha certeza. Aí completei: “então você tem incerteza em cima do valor estimado”!
    A terra passa por modificações climáticas que não necessariamente podem acarretar em seu aquecimento. E mesmo que esteja aquecendo, as causas podem ser devido à ação antrópica e/ou devido a outros fatores como, por exemplo, a emissão de mais radiação solar através das explosões solares.
    Fico preocupado quando muitos marcham num única direção… e aí a questão da fraude e manipulação dos dados faz todo sentido.
    A questão do aquecimento global devido à ação antrópica foi proposto pelo político Al Gore na década de 90 de maneira sentimentalista e apocalíptica. Esta me parece mais uma questão econômica e não científica - Uma nova ordem econômica mundial…

    Abraço,

    Raimundo
    UNESP/Bioestatística/Botucatu-SP.

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