terça-feira, 12 de abril de 2016

A Estatística do processo de impedimento da Dilma


/www.google.com/trends/

A mobilização em torno do pedido de impedimento (impeachment) da Dilma é sem dúvida nenhuma o tema mais relevante do país nos últimos meses. O assunto tem envolvido a sociedade brasileira em intensos debates e tem não raro gerados atritos entre grupos de pessoas no ambiente de trabalho e até no ambiente familiar. Esse efeito colateral adverso é um claro indicador da importância que esse tema tomou. O nível de envolvimento do brasileiro com esse assunto pode ser avaliado em uma busca na ferramenta Google trends com a palavra impeachment. A figura acima mostra o aumento expressivo de buscas globais por esse tema em 2015 e o Brasil é a origem da maioria das buscas.

Independente das posições pessoais que se pode ter, e eu não vou entrar no mérito dessa questão, ele constitui uma interessante fonte de estudo para os estatísticos. E aqui me refiro tanto a levantamentos de opiniões quanto a dados concretos. Esses dados podem ser usados para traduzir o sentimento momentâneo de quem efetivamente define a próxima etapa do processo, que é a votação pela Câmara dos Deputados da admissibilidade ou não do processo e consequente arquivamento ou encaminhamento para o Senado do pedido.

Vou me ater apenas a um pequeno conjunto de informações com dados concretos sobre esse palpitante assunto. A conta simples fizemos aqui é baseada em dados obtidos na comissão especial montada para analisar o pedido de impeachment. Uma premissa fundamental para essa conta fazer sentido é que a comissão é uma amostra representativa dos 513 que compõe a Câmara dos Deputados. Acho que essa hipótese pode ser assumida pois se procurou respeitar na comissão a proporção de deputados de cada partido. É provável que tenham havido injustiças mas acredito que elas se contrabalançam nas duas direções. Mas nem todos estão de acordo com essa premissa e, nesse caso, dever-se-ia acrescentar uma correção aos resultados obtidos. Uma análise alternativa usando declarações dos deputados que já definiram  a sua posição e uma elaborada imputação de dados para os indecisos foi divulgada ontem pode ser vista aqui.

Após a leitura do relatório, restaram apenas uma sessão para pronunciamentos e uma sessão para ponderações finais e votação. O número de inscritos para falar na sessão de pronunciamentos do dia 08/04/2016 foi 116 sendo 70 deputados a favor do impeachment, 44 contra e 2 indecisos (que se inscreveram para falar 2 vezes). Tomando como base esse números, teriamos a proporção de votos a favor do impeachment variando de 60% (=70/116) a 62% (=72/116), onde o cenário mais desfavorável ao impeachment teria os 2 indecisos como contrários ao impedimento e o mais favorável ao impeachment teria os 2 indecisos apoiando essa proposta. Em ambos os casos, observa-se uma proporção muito próxima de (mas inferior a) proporção de 67% dos votos, condição necessária para prosseguimento do processo.

A disputa intensa pelos 1os lugares na fila de inscrições se justifica. Apenas 61 dos inscritos falaram na sessão, que foi encerradas as 04:43hs da manhã do sábado (09/04/2016). Há uma discrepância nas informações sobre as falas com alguns jornais falando em 39 e outros falando em 40 favoráveis ao impeachment, e portanto 20 ou 21 contra o impeachment e 1 indeciso. Novamente as proporções variam de 64% (=39/61) a 67% (=41/67) em padrão similar ao de inscritos mas com um discreto aumento na proporção de apoiadores do impeachment

A sessão seguinte, realizada ontem (11/04/2016), não diferiu muito desse padrão, com 38 votos favoráveis ao impedimento de Dilma e 27 votos contrários. A estimativa da proporção a favor do impedimento seria então 58,5%, abaixo das proporções anteriormente obtidas. Entretanto, a precisão dada por uma amostra (ainda que representativa) com apenas 65 pessoas é baixa; a margem de 95% de confiança é extremamente ampla, de 11% para mais ou para menos. É claro que a volatilidade da situação política atual pode introduzir novos elementos ao longo desta semana que antecede a decisão da Câmara. Esses elementos podem pender a balança mais fortemente para um dos lados. Mas os indícios apontam para uma disputa intensa e que será decidida (a favor ou contra) por poucos votos. 

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