terça-feira, 5 de abril de 2016

Fala de Aniversário

fonte: arquivo da família

por Helio dos Santos Migon*

Prezados Colegas, Amigos, Alunos e ex-alunos.
Minha esposa, minha mãe, filhos (netos e noras) e meus irmãos.

É com grande emoção que recebo essas manifestações de carinho e apreço. E quem sabe reconhecimento!

Saibam que todas as palavras e comentários generosos aqui transmitidos, com certo exagero, é claro, foram fruto de uma construção conjunta ao longo dos anos e extremamente facilitada pelo empenho de todos vocês: família, amigos, colegas, alunos.

Não vou falar hoje de realizações profissionais, nem de produção científica, mas tentarei dizer algumas palavras sobre minha trajetória - o lado desconhecido de vocês.

É meu dever reconhecer que sou fruto de uma família de classe média a quem devo muito de minha educação, da formação de meu caráter e de orientação para a vida. Família grande com muitos tios, maternos e paternos.

Fui sempre tratado com muita deferência pelos meus avós e tios. Inicialmente tinha mais proximidade com meus avós paternos. Cheguei a viver com eles por dois curtos (mas longos…) períodos. Mais tarde com a compreensão das dificuldades da vida, passei a admirar os meus avós maternos por suas lutas, por suas conquistas etc.

Minha escolaridade inicia-se na Dna Silvia (jardim de infância em Jacarepaguá, zona rural!!!), passando pela dona Chiquinha (em Barbacena, onde conheci um precursor do tablet - uma lousa de pedra onde se escrevia com um grafite). Frequentei escolas públicas e fiz o curso de admissão. Fiz o secundário em SP, num colégio tradicional católico.

Ai por influências diversas - a industrialização de um lado e um amigo mais velho estudante de economia - queria estudar economia/estatística. Uma tia, professora de matemática, indicou-me, então, o curso técnico de estatística na  Ence.  Assim, me dedico a estatística de longa data.

Profissionalmente fiz uma longa trajetória até me fixar na UFRJ, começando pelo Banco do Brasil e Banco Central. Passei pela Unicamp, Usp, Telebrás e Serpro.

História 1: No doutorado, quando perguntei ao Jeff porque o corpo docente do pequeno departamento de Warwick mudava tanto, ele me respondeu que era porque ele escolhia sempre os mais competentes. Talvezeu tenha mudado muito para testar minha competência. 

Aqui na UFRJ ajudei a remodelar nossa pós-graduação, participei da PO, orientei, dei aulas “confusas”, inquietas, mas sempre me empenhei para motivar os bons estudantes. Para mim este é o papel do professor: “um agitador cultural”. Aprender é uma relação íntima do estudante com o conteúdo. Sem intermediários! O professor se limita a motivar, estimular a curiosidade, indicar as referências, orientar e cobrar.

História 2: Na graduação, quando estudei teste de hipótese, fui ensinado que a região de rejeição da hipótese nula era para lá, lá, lá .…( sacudia-se os braços). Eu tinha certeza que deveria existir um teorema. Encontrei, por conta própria, o lema de Neyman Pearson.

Foi nesta fase que conheci Mirna, que participei ativamente de várias atividades de política estudantil. De inicio, não por formação política ou por convicções ideológicas, mas somente porque tinha um bom rendimento acadêmico e atendia o mal falado decreto lei 477. Escapei de Ibiúna por paixão.

Mas deixei de fazer muitas coisas:
1. não consegui fazer prevalecer a meritocracia em todos os níveis na UFRJ.

2. não consegui influir para termos um vestibular unificado, que selecionasse os melhores e, depois, que  eles fizessem suas escolhas profissionais.

3. não consegui levar nosso programa (de pós-graduação) a um conceito maior nas avaliações.

4. lamento não ter usufruído dos prédios novos na Unicamp, Usp e também na Ufrj — Sou, provavelmente, o pé frio. Muito me envergonha ver nosso campus como via de passagem, nossos prédios eternos esqueletos, nossa segurança precária, nossos estacionamentos falsamente gratuitos.

5. Nossa carreira burocratizada e desprestigiada. Um péssimo exemplo  para os mais jovens.

6. Nossa UFRJ é a união de um número parcimonioso de bolhas de eficiência entremeada de grupos meramente “burocráticos” - dadores de aulas. O pior: são pessoas competentes mas de baixa ambição e dedicação.

Ainda anseio por uma universidade mais eficiente, cientificamente produtiva, que se orgulhe de suas realizações e as divulgue com vigor.

Uma Universidade onde na graduação se ensine aos alunos a serem seres críticos e analíticos e onde o conhecimento cientifico já sedimentado seja disseminado; na pós-graduação deve-se discutir a ciência recém desenvolvida e em desenvolvimento.

Assim precisamos ter as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão integradas. Entretanto, não é difícil perceber que sem Pesquisa não existirá ensino de qualidade e muito menos realizações  a serem  disseminadas via extensão.

Nossas condições materiais sempre foram e continuam sendo péssimas.  Certo que foram piores ainda no passado. Se isto é consolo. Mas os frutos gerados neste ambiente, de permanente escassez, acabam nascendo com mais força, com mas anticorpos.

Precisamos ter denodo especial para participar da construção da estrutura que almejamos, mesmo convivendo com essas severas condições de contorno.

Há os que preferem simplesmente usufruir das estruturas já consolidadas ao invés de lutarem por ideias inclusivas, de fato. Que, além de suas carreiras individuais, pensem nos resultados gerados para a Instituição, para o coletivo.

Só me resta, para concluir, convidar aos mais jovens para o trabalho, trabalho trabalho … (praticar, praticar, …)

História 3: plagiando Morris DeGroot que após uma noitada na discoteca ministrouuma esplendida palestra  no Valencia II, na primeira hora da manha. 

Meus profundos e sinceros agradecimentos a todos os presentes. Comprimento a Alexandra, a Mariane, a Andreia e o Dani, e através deles a todos os demais envolvidos,  pela  iniciativa desta comemoração, pelo esmero em sua organização e pelo carinho com que sempre me trataram. Muito obrigado   do fundo de meu coração.

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* - texto base para agradecimento do próprio pelas comemorações pelos seus 70 anos

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