terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Uso e abuso dos números - uma réplica



http://pit935.blogspot.com.br/2012/11/concentracao-de-renda-no-brasil.html

por Rodrigo Targino*

Só pra botar um pouco de lenha na fogueira faço uma pergunta:
O quão confiáveis são os dados de renda compilados pela Andifes?

Vocês mesmo mencionam (com razão!) que "verificar quem pode ou não pagar (uma operação complexa)" teria custos. Nos 6 anos que passei como estudante na UFRJ não me recordo de nenhum censo entre os alunos. Imagino, portanto, que esses dados sejam de alguma "renda informada", provavelmente em um dos inúmeros formulários que os alunos preenchem quando fazem o vestibular/ENEM/inscrição.

Sendo a renda uma "renda informada", vejo pelo menos dois problemas simples: (1) o candidato/aluno não sabe a renda da sua família e (2) dada a eterna discussão sobre cobrança de mensalidades dos alunos de "alta renda" o candidato/aluno tem um incentivo para diminuir sua renda familiar.

A única informação que encontrei sobre as pesquisas da Andifes foi o seguinte texto, que me leva a crer que houve uma pesquisa por amostragem:

HISTÓRICO

A última pesquisa realizada pelo ANDIFES foi em 2010 e teve a participação de estudantes de 56 instituições federais de ensino superior. Naquele ano, a pesquisa constatou que 43,74% dos alunos das universidades federais pertenciam às classes C, D e E; e que o percentual de estudantes de raça/cor/etnia preta aumentou de 5,9% em 2004 (período da pesquisa anterior) para 8,7%, em 2010."

http://www.andifes.org.br/politicas-de-expansao-e-inclusao-contribuem-para-que-as-classes-d-e-e-sejam-a-maioria-dos-estudantes-das-universidades-federais/

Minha experiência diz também que a variabilidade de renda entre os alunos das IFES é muito grande, tanto dentro da mesma universidade (Eng. Produção vs Letras, por exemplo), como entre universidades. Acho importante manter isso em mente, e lembrar que alguma forma de cobrança em IFES geraria uma transferência de renda entre cursos/IFES "ricas" para "pobres". Esse tipo de política pública poderia dar isenções para cursos/IFES sabidamente de "baixa renda", canalizando alunos de mais alta renda para cursos gratuitos, como Licenciaturas, por exemplo.


* - Rodrigo Targino é professor da Escola de Matemática Aplicada, da Fundação Getulio Vargas.

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