Ricardo Moraes/Reuters
Não há como ter postagem com tema diferente esta semana. O Museu Nacional é um dos principais museus do país e a perda do acervo no incêndio de domingo passado foi significativa, quase total nas mais variadas áreas das Ciências Naturais, passando por fósseis, ossadas, achados arqueológicos, reconstituições pre-históricas e outros objetos históricos de valor inestimável, que estarão perdidos para sempre. Além disso, trata-se de uma instituição pertencente à UFRJ, instituição onde trabalho. Como se isso não bastasse, trata-se de um prédio histórico muito bonito (com se vê na foto abaixo) que abrigou a residência do imperador durante a vigência do império no Brasil.
www.museunacional.ufrj.br
Esse incêndio foi mais um duro golpe na história e na Ciência deste país. E esse golpe assume crueldade ainda maior por atingir uma instituição bicentenária no já combalido Estado do Rio de Janeiro e na igualmente deficitária UFRJ. Como se isso não bastasse, o toque final de ironia trágica foi o fato de ter sido recentemente assinado em junho deste ano um contrato de financiamento com o BNDES para revitalizar o Museu. A divulgação pelo BNDES sobre esse contrato lista em primeiro lugar a recuperação física do prédio histórico e portanto havia bastante clareza da urgência dessa revitalização. A assinatura do contrato foi oficializada em uma das salas do Museu, com um esqueleto de uma baleia jubarte, como mostra a foto abaixo.
www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/conteudo/bndes-destina-r-21-7-milhoes-para-revitalizacao-do-museu-nacional
Essa é a crônica de uma morte anunciada e infelizmente materializada no incêndio de dias atrás. A cuidadosa averiguação das responsabilidades deve aguardar alguns dias até a poeira baixar. Mas parece claro que vários atores contribuíram para esse trágico desfecho. Não podemos deixar de falar das autoridades públicas responsáveis pelo bom funcionamento das instituições. Assim, presidente, governador do estado, prefeito da cidade e outras instituições poderiam ter agido antes para evitar que um verdadeiro tesouro sob sua guarda e atendendo sua população estivesse em estado tão deplorável. Nesse ponto, a fala do prefeito do Rio de Janeiro em frente aos escombros do museu (ver foto abaixo) chegou a ser tristemente anedótica ao falar em recompor as peças do Museu, dando a entender que fosse possível que as obras históricas lá expostas tivessem réplica contemporânea.
extra.globo.com/noticias/rio/em-nota-crivella-fala-em-recompor-acervo-do-museu-nacional-causa-indignacao-23033520.html
Não se pode eximir de responsabilidade as diferentes equipes que ocuparam a Reitoria da UFRJ nos últimos anos. As evidências falam por si e não vem de hoje. Num passado não muito distante, no início desta década, uma parte de um prédio tombado do Campus da Praia Vermelha também foi consumido por um incêndio em uma capela. Poderia se dizer que ambos os casos envolviam edificações antigas, mais propensas a acidentes. Que dizer então do incêndio que destruiu alguns andares do prédio da Reitoria há cerca de 2 anos? [Vale informar que até agora os serviços não voltaram ao seu local original de funcionamento e alguns cursos estão tendo atividades improvisadas em outros locais até hoje.] Além desses episódios, houve uma série de incêndios de menor porte em diferentes locais dos campi da UFRJ nos últimos anos. E as evidências de má conservação em prédios públicos não param com esses casos. É muita coincidência...
Finalmente, cidadãos da cidade do Rio de Janeiro e profissionais da UFRJ temos nossa parcela de responsabilidade. Precisamos pensar mais seriamente sobre a manutenção de bens públicos e cobrar medidas eficazes de nossos dirigentes, sob risco deles perderem votos quando candidatos ou perderem o mandato, quando exercerem seus cargos de forma ineficiente. Se houver cidadãos conscientes em constante vigilância, esses dirigentes irão se esmerar para fornecer um serviço melhor. E assim evitar a tristeza que muitos de nós está sentindo no dia de hoje...
Nenhum comentário:
Postar um comentário