Fonte: IBGE
A discussão sobre os cortes no orçamento do Censo 2020, a ser realizado pelo IBGE continuam gerando discussão. Essa discussão foi amplificada por alguns acontecimentos recentes. O mais importante foi o pedido de exoneração de 5 gestores do IBGE de seus respectivos cargo de liderança, entre diretores e gerentes. Todos são funcionários de carreira do IBGE, permanecerão na instituição mas sem cargos de comando e se exoneraram em um curto intervalo de tempo durante a semana passada. Vale lembrar que intempéries no censo não são uma novidade na nossa história; por conta de restrições orçamentárias do governo, o censo de 1990 só ocorreu em 1991.
A principal queixa de todos esses dirigentes e de boa parte do corpo de funcionários da instituição é a falta de discussão com a presidência do IBGE a respeito das reformulações necessárias para atingir a redução do orçamento para a realização do Censo ano que vem. A nova presidente do IBGE assumiu o cargo em fevereiro deste ano e não fazia parte do quadro de funcionários da instituição. Apesar de relativamente jovem, ela ostenta em seu curriculo uma boa formação acadêmica e uma razoável experiência em manuseio de dados públicos. Baseado na sua avaliação, a redução no orçamento não apresenta prejuízo à realização do Censo.
Os censos nacionais são realizados tipicamente com um questionário curto para toda a população, de forma a garantir seu carater de Censo, acoplado a um questionário mais extenso para uma pequena parcela da população, atualmente em torno de 10% da população. Embora ainda não tenha ficado claro o tamanho do corte, a idéia da instituição parece ser a de reduzir o número de perguntas do questionário longo e assim precisar de menos entrevistadores. Alguns ex-presidentes já se manifestaram publicamente sobre o corte. Minha impressão é que a maioria deles se posicionou contra mas há exceções, que apontam para a otimização dos recursos através da complementação da informação com resultados de várias outras pesquisas que o IBGE realiza. Isso aponta apenas uma possibilidade dentre as várias que aventei em postagem recente.
Uma questão que me parece relevante é a quantidade de treinamento e testagem que são necessários para a realização desse tipo de modificação em procedimentos que já foram de uma certa forma introjetados na memória da instituição. Isso é uma pergunta para os técnicos do IBGE. Uma resposta detalhada pode ser vista aqui. Acredito que essa não seria a primeira modificação nos padrões adotados no Censo.
O que me parece mais relevante aqui para nós é alguma espécie de quantificação das perdas que estão em jogo. Muito pouco tem sido dito a esse respeito e a discussão parece estar concentrada em retórica expositiva, o que dificulta um pouco a sua correta avaliação pela sociedade. É claro que qualquer diminuição no orçamento implicará em perdas e eu acho que está claro que o país sofre uma crise fiscal de grandes proporções. Esses dois fatos estão a meu ver em direta oposição.
A decisão sobre alocação de recursos é uma prerrogativa da sociedade ou de seus representantes. Mas ela ficaria muito facilitada se fosse contextualizada em termos quantitativos. As manifestações que vi parecem centrar na importância que o Censo tem para a sociedade a ser recenseada, o que não me parece estar sendo questionado por ninguém. Um exemplo preparado por um experiente estatístico do IBGE pode ser lida aqui ou vista aqui. Essas apresentações poderiam se beneficiar com mais estudos sobre que perdas ocorrerão com a diminuição de perguntas e/ou com a diminuição do tamanho da amostra. Mas a quantificação dessas perdas ainda carece de mais divulgação para a sociedade.
Essa discussão ainda terá vários outros desdobramentos e o cotexto político em que ela se desenrola está longe de ser tranquilo. O valor numérico dos cortes é bastante eloquente e esperamos que se procure esclarecer o que se perde em cada opção, de forma quantitativa. Quem ganha é a sociedade
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