CDC é a sigla do Centro para Controle e Prevenção de Doenças, o órgão público americano para acompanhamento de todos os tipos de doença nos Estados Unidos. Anteriormente chamado de Centro para Doenças Comunicáveis, teve a palavra Prevenção incluida no seu nome em 1992 como consequência direta da tendência que se estabelecia naquele momento de enfatizar a prevenção como ferramenta indispensável para o combate e o controle de qualquer doença.
Como agência sanitária do país que mais investe em ciência (e medicina), trata-se de um instituto com inserção de protagonista em qualquer assunto ligado à saude da humanidade. Assim, ele rivaliza com a Organização Mundial de Saude em termos de relevância e estabelecimento de padrões para compreensdão da saude no nosso planeta. Essa rivalidade é em geral amistosa e colaborativa mas não passa desapercebida pela mídia.
Sendo uma referência mundial, é no minimo ilustrativo ver as definições que esse organismo atribui a palavras tão relevantes como vacina e vacinação. Para isso, basta acessar aqui. Mas o ponto relevante aqui é que essa definição acaba de ser divulgada. Portanto, vale a pena comparar as definições atuais e anteriores e entender o que mudou e porque mudou.
A definição anterior para vacina dizia "um produto que estimula o sistema imune de uma pessoa a produzir imunidade contra uma doença específica", enquanto o texto anterior para vacinação dizia "o ato de introduzir uma vacina em um corpo para produzir imunidade contra uma doença específica". A mudança foi julgada necessária porque, embora ambos os trechos não dissessem isso, as definições poderiam ser interpretadas (e efetivamente o foram) como garantia de imunidade total, ou seja, obtida com 100% de certeza. Isso nenhuma vacina oferece mas muitos agentes no atual cenário exploraram essa inevitável dose de incerteza para gerar desconhecimento e promover a campanhas contra essa particular vacinação.
Em linha com as preocupações externadas na nossa última postagem, o CDC resolveu se precaver contra possíveis maus usos de suas afirmações e promoveu as mudanças. No caso de vacinação, a palavra imunidade, que é comumente associada a certezas, foi trocada por proteção, que não carrega o fardo da infalibilidade. Para a definição de vacina, a troca foi mais abrangente e trocou a frase citada no parágrafo acima por "um preparado que é usado para estimular o sistema imune de uma pessoa contra doenças". A chave foi remover a expressão "promover imunidade", de novo com o mesmo objetivo.
A interpretação feita acima sobre os motivos para a mudança foram apresentados por um assessor de imprensa do próprio CDC, como informado pela midia americana. Mesmo com todo esse cuidado, foram levantadas especulações sobre outros possíveis motivos para a mudança, como atesta o tweet de um congressista americano.
Era esperado que uma mudança como essa em plena pandemia não passasse imune a críticos em geral, especialmente entre aqueles que são contra vacinação ou que nutrem dúvidas a respeito de sua eficácia. De fato, as vacinas não garantem a imunidade com 100% de certeza. Associar alguma incerteza, por menor que seja, a algum procedimento necessário abre a possibilidade de sua adoção ser questionada. E isso pode levar até à rejeição do procedimento, dependendo da penetração desse questionamento em determinados setores da sociedade.
Sendo assim, não custa reafirmar que a introdução das vacinas contra a COVID19 pode não ter conseguido erradicar a doença como alguns acreditaram mas foram extremamente relevantes para diminuição de número e severidade dos casos confirmados. Além disso, promoveram uma significativa redução na mortalidade associada a essa doença. Como o próprio assessor do CDC cuidou de ressaltar, o mais importante não é a mudança na nomenclatura mas sim "o fato que a vacina e a vacinação preveniram milhões de doenças e salvaram um incontável número de vidas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário