terça-feira, 29 de março de 2022

Para onde vai a Estatística? Comparação entre Brasil e EUA

 

https://magazine.amstat.org/blog/2021/10/01/undergrad-stats-degrees-up/

A estatística Doris Fontes é uma ferrenha e ardorosa defensora da Estatística. Ela encontrou tempo entre suas atividades profissionais para presidir por vários mandatos a seção mais importante dos Conselhos Regionais de Estatística (CONRE's), que é a de São Paulo. Além disso, é uma incansável estudiosa da profissão, sem dogmatismo mas com uma abordagem construtiva e de reflexão. Ela também participa ativamente de eventos acadêmicos da área, sempre buscando uma conexão entre a atividade no mercado produtivo e a academia.  

Ontem, ela brindou a lista de discussão da Associação Brasileira de Estatística com alguns gráficos que refletem sua preocupação com a pergunta do título desta postagem. O primeiro deles mostra com vai a evolução da profissão de estatístico nos EUA. E a figura mostra um cenário bastante animador por lá. A formação de  estatísticos a níveis de graduação e de mestrado vem crescendo a um nível exponencial. Parte desse aumento é um reflexo do pequeno numero de cursos de graduação (e até mesmo de mestrado) no século passado. Mas ele está claramente relacionado a um enorme avanço do mercado de trabalho na direção de profissionais desta área. Os cursos de doutorado já apresentam um discreto avanço (digamos linear) na formação de doutores, claramente impactado pela maior procura por posições no mercado de trabalho. 


Fonte: Doris Fontes (com dados do INEP)

A figura acima representa parcialmente a situação neste século no Brasil ao nível de bacharelado. Por ela se vê que a capacidade instalada de formação de profissionais nas universidades até apresenta um discreto aumento nas vagas oferecidas. Mas esse esforço está muito longe de se refletir em profissionais que essas universidades conseguem entregar para a sociedade. Existem algumas explicações para essa "ineficiência produtiva" na academia. 

Acredito que boa parte esteja relacionada com a bagagem que os ingressantes trazem do ensino médio. Essa última é claramente insuficiente. Os alunos que entram no curso pensando que vão lidar com os números das estatísticas às quais todos somos expostos. ao contrário eles se vêm perante uma realidade repleta de formalismos, expressos em letras de diferentes alfabetos. Com isso, eles se perdem na abstração matemática. Além de ser baseada em tema que muitos dominam com dificuldade, ela representa um choque de expectativas. 

É urgente que seja aproximada a matemática da universidade com a matemática da maioria dos ingressantes. A universidade está atenta a isso e procurou em certa medida diminuir esse distanciamento técnico mas isso não resolve a quebra de expectativas. Algo tem sido feito com visitas a escolas de ensino médio mas isso é claramente insuficiente. Talvez uma mudança curricular no ensino médio passe pela inclusão de mais conteúdo estatístico, apresentado com mais computação. Isso poderia suavizar o salto necessário, através do uso de uma linguagem mais acessível aos alunos do ensino médio. Mas está longe de ser uma tarefa factível e implementável a curto prazo. É possível que o exemplo americano possa trazer subsídios úteis para o nosso país.

O espaçamento entre ingressantes e concluintes pode ser investigado em mais detalhe através da Figura abaixo.  Ele mostra onde há espaço para uma formação mais eficiente, ao menos quantitativamente. Nele, pode se ver que a maior eficiência de formação está na UFRJ e o pessoal de lá deve ser parabenizado. Mas um olhar mais atento mostra que essa eficiência foi obtida em parte com a diminuição do número de ingressantes, comparativamente a outros centros. Qual é a melhor estratégia; privilegiar a formação da maior taxa possível de ingressantes ou formar mais bacharéis em Estatística, a um custo maior? 

                                             Fonte: Doris Fontes (com dados do INEP)

Um comentário:

  1. Obrigada pelo espaço para essa discussão. A sociedade americana consome "estatística" e "probabilidade" no dia a dia, sem preconceitos. Aqui parece que as escolas preferem eufemismos como "tratamento da informação". Consequentemente, os estudantes (e a sociedade) nem percebem que temos um curso especializado em estatística. A nova BNCC até pretende mudar esse cenário, mas a falta de qualificação dos pedagogos e licenciados em matemática no ensino da estatística é preocupante.

    Sobre a evasão, os coordenadores da graduação da estatística poderiam bolar alguma forma de estudar dos EVADIDOS para ver se há alguma luz no fim do túnel...

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