Esse verão atipicamente seco vem mantendo os reservatórios de água das usinas hidroelétricas no país com níveis cada vez mais preocupantemente baixos; o nível baixo da represa de Furnas, ilustrado na foto acima, é um exemplo. Como a grande fonte de energia do nosso país é aquela gerada pelas usinas hidroelétricas, cuja fonte é a força da água por elas represadas, essa situação inspira atenção.
Nesse cenário, o ministro de energia Edison Lobão afirmou ontem (03/02/2014) que o risco de falta de energia no país é zero. Isso me fez lembrar da Lei de Cromwell. Essa Lei, comumente atribuida ao recentemente falecido Dennis Lindley, estabelece que não se deve associar probabilidade 0 a eventos possíveis, por mais que improváveis que eles possam nos parecer.
O que essa Lei procura refletir é o respeito à probabilidade como representação de nosso estado de conhecimento e o uso de probabilidade para servir como guia indispensável em nosso processo de decisão. Já vimos aqui como pensar em probabilidade como base para tomada de decisão. Quanto menor a probabilidade associada a algum evento, mais dispostos deviamos estar para apostar contra a sua ocorrência. Se um determinado evento (racionamento de energia, por exemplo) tem probabilidade 0, deveriamos estar dispostos a apostar tudo que temos contra a sua ocorrência. Eu não faria tal aposta, numa decorrência direta de aplicação da Lei de Cromwell. Afinal, não acredito que o risco seja nula. Será que o nosso ministro estaria disposta a fazer tal aposta?
Não sei se devemos esperar o cumprimento dessa Lei por parte de políticos brasileiros, tão acostumados a desrespeitar a nossa Lei e até entendo o ponto de vista do ministro de não querer preocupar a população e tentar interromper já na origem especulações potencialmente perigosas (para seu governo). Mas acho que deviamos começar a cobrar atitude e respeito à Lei, inclusive a de Cromwell, como forma de respeito à verdade e à sociedade, que o elegeu para representa-la.
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