terça-feira, 13 de maio de 2014

Pesquisas eleitorais - parte I


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Estamos nos aproximando de mais uma rodada de eleições importantes no país. Tão logo termine a Copa do Mundo, estaremos sendo inundados de informações sobre os candidatos, suas plataformas e suas chances de vitória. Então é bom começarmos a discutir alguns dos pontos que mais chamam a nossa atenção sobre esse assunto. 

Vou precisar de postagens inteiras específicas sobre alguns dos pontos que gostaria de mencionar. Sem dúvida o assunto mais visível é o acompanhamento dos resultados de pesquisas eleitorais sobre as intenções de voto para cada um dos (neste momento, possíveis) candidatos. O primeiro ponto é sobre como coletar a amostra da melhor forma possível. É bom esclarecer aqui que não dá para perguntar a todos os eleitores do Brasil em quem eles pensam em votar. Isso custaria muito caro e tomaria muito tempo. A única opção factível é mesmo consultar uma amostra dessa população. 

Já ouvi algumas vezes que não dá para acreditar nas pesquisas que são comumente veiculadas pelos meios de comunicação pois eles (essas pessoas) nunca forma ouvidas em nenhuma dessas pesquisas. Quando essas pessoas são confrontadas com a informação que essas pesquisas são baseadas em alguns poucos milhares de eleitores espalhados pelo Brasil ai é que elas enlouquecem. Para elas é simplesmente inadmissível falar de um universo de cerca de 100 milhões de eleitores baseado em 2 ou 3 milhares de pessoas.

Essas pessoas desconhecem o poder dos cálculos estatísticos, que garantem ser perfeitamente possível tal tipo de amostra se bem escolhida, isto é, se representam bem o espectro de opiniões dos eleitores deste país. Algum tempo atrás, o Laboratório de Estatística que temos na UFRJ foi procurado por um partido político às vésperas de uma eleição. Eles desconfiavam dos números que os institutos de pesquisa tradicionais forneciam para seu candidato. Imagino que eles queriam verificar se não havia nenhuma espécie de manipulação dos dados por parte desses institutos talvez para favorecer outros candidatos.

Organizamos nossa equipe de pesquisa, com todas as dificuldades que esse tipo de tarefa impõe, especialmente para quem não executa esse tipo de tarefa rotineiramente. Tivemos que escolher líderes locais, realizar treinamento dos entrevistadores, determinar como deveriam ser escolhidos os entrevistados e coletar os resultados de campo. Ao final de todo esse processo, não foi nenhuma surpresa verificar que nossos números ficaram muito próximos dos números que os outros institutos forneciam. Como resultado, esse partido optou por não divulgar os resultados de nossa pesquisa e perdemos a chance de ter o nome de nosso Laboratório aparecendo nos principais meios de comunicação. :)

As pesquisas que muitos institutos de pesquisa realizam efetivamente continuam sendo objeto de debate no meio estatístico pois não são completamente aleatórias. Para garantir representatividade da população, elas são baseadas em pre-definição de cotas a serem cobertas pelos entrevistadores. Isso dificulta um pouco a construção dos estimadores e principalmente dos respectivos intervalos de confiança dos resultados obtidos. Mas fornecem boas aproximações para os valores que seriam obtidos caso a amostragem fosse completamente aleatória. Talvez por isso continuam em uso até os dias de hoje.

Essa postagem foi motivada por uma reportagem na semana passada, onde pela primeira vez no Brasil eu me lembro de ter ouvido a expressão intervalo de confiança associada aos resultados ao invés das usuais "margens de erro de 2 pontos percentuais". A explicação que a jornalista deu para esse intervalo foi mais confusa que a própria definição de intervalo de confiança. Mas considero a mudança positiva pois procurou caracterizar o que essas margens de erro significam. Acidentes de percurso acabarão sendo extintos e a população finalmente terá uma definição mais clara do que essas margens de erro significam.

Na próxima postagem, gostaria de continuar nesse assunto e falar sobre as sequencias de pesquisas de opinião que são comumente apresentadas e como elas poderiam ser melhor aproveitadas.

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