terça-feira, 1 de julho de 2014

Copa do Mundo - parte IV (tráfego aéreo)

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Existe uma infinidade de aspectos associados à realização de uma Copa do Mundo. Muitos desses aspectos foram (e ainda continuarão sendo por algum tempo) debatidos no seio da sociedade brasileira. Queria me concentrar aqui sobre a avaliação do tráfego aéreo no país. A principal motivação para discutir esse assunto foi a reportagem Vôos previstos para a Copa estão mais vazios que o esperado, publicada pelo respeitado jornal Folha de São Paulo, no dia 17/06/2014. 

Para justificar o argumento e o título da reportagem, o jornal lançou mão de uma série de dados e é sobre essa utilização de dados que eu queria tratar aqui nesta postagem. A reportagem inicia dizendo que

A taxa de ocupação dos voos previstos para a Copa está em cerca de metade da média registrada pela aviação doméstica no mesmo período de anos anteriores. Levantamento feito pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) mostra que a taxa média de aproveitamento de assentos em voos nas cidades-sede é de 37,5%. A medição foi feita no dia 1º e leva em consideração os 45 dias seguintes. Até essa data, foram vendidos 4,3 milhões dos 11,5 milhões de assentos ofertados em 45 dias para a Copa, afirma a Anac.

Vários pontos precisam ser esclarecidos sobre esse trecho, central para o argumento apresentado no título da matéria. Em primeiro lugar, a reportagem corretamente informa como foram obtidos os dados sobre compras de passagem usados na contabilidade deste ano mas não informa como foram obtidos os dados usados na contabilidade do ano passado. Em particular, a medição deste ano é baseada em compras feitas antes do período de 45 dias considerado. Embora não tenha sido esclarecido que medição foi usada para o ano passado, é razoável supor que esses dados foram baseados nas vendas  totais realizadas para o mesmo período daquele ano. A própria reportagem reconhece que as vendas deste período ainda devem aumentar em relação aos valores fornecidos mas não está claro quanto elas ainda aumentarão. A extrapolação implícita no título parece indicar que esse aumento será insuficiente para chegar aos níveis do ano passado. Essa argumentação é baseada nas expectativas das companhias aéreas. Nesse caso, os dados apresentados forneceriam apenas um guia que, embora razoável, pode ou não ser aceito como adequado.

Outro ponto é que as medições apresentadas são baseadas em dados das cidades-sede. Não fica claro se a percentagem de ocupação dos vôos usada no ano anterior foi também usando apenas os vôos das cidades-sede ou usando todos os vôos no país. É bem possível que essas percentagens sejam muito parecidas. Afinal, as cidades-sede coincidem com as maiores cidades do país e possivelmente tem percentagens de ocupação de vôos parecidas. Mas essa informação também não foi apresentada.

A matéria apresenta vários outros dados associados a estatísticas de venda de passagens para dar sustentação ao ponto levantado. E até acredito ser bastante plausível que esse ponto seja o mais correto reflexo da realidade. Mas para poder usar os dados de forma a apontar essa realidade de forma inequívoca uma série de outros cuidados precisam ser tomados. Como está, os dados em si não são suficientes para comprovar a tese da matéria. Eles servem apenas como subsídios, que juntados a outras fontes de informação, podem levar o leitor a acreditar na verossimilhança da argumentação apresentada.

Vôos previstos para

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