terça-feira, 6 de outubro de 2015

Política x Estatística - parte II

onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1740-9713.2012.00621.x/epdf

Infelizemente, o assunto ingerência política na atividade de Estatística não é novidade. Aqui mesmo no StatPop foi reportado o incidente ocorrido no IBGE no ano passado. Queria agora contar mais uma história triste mas que parece estar caminhando por um final que, se não dá para chamar de feliz, pelo menos não é tão ruim quanto poderia ser. Trata-se da história de vida (profissional) de Graciela Bevacqua, uma economista argentina com larga experiência em Estatística. O que segue abaixo é um resumo extraído de textos publicados na Significance, especialmente o texto da Professora Alicia Carriquiry, de onde foi extraido o retrato de Graciela Bevacqua acima.

Graciela trabalhou com consultora independente até começar sua interação com o INDEC (Instituto Nacional de Estadística y Censos), o equivalente ao nosso IBGE. Essa interação foi se formalizando ao longo da virada do século até que em 2002 ela se tornou a diretora do grupo que calcula o Índice de Preço ao Consumidor (IPC) dentro do INDEC. Esse índice é um dos principais elementos do cálculo da inflação no país vizinho. 

Ela só foi oficializada no cargo pelo Presidente Nestor Kirchner em 2005 e foi a partir daí começamram seus problemas. Ela foi constantemente contactada por membros do Ministério da Economia para fazer inúmeros tipos de ajuste nas suas contas. Esses ajustes variaram desde a forma de obter os dados básicos (com sugestões de quem amostrar e como amostrar) até técnicas insólitas de arredondamento de valores, passando pelo uso de metodologia correta. A forma como essas solicitações de ajustes eram feitas envolviam ameaças que foram crescendo de intensidade.

A pressão foi crescendo de tal forma a ponto dela ser demitida em 2007. A partir desse ponto, ela começou a desenvolver atividades similares (medição de indicadores de inflação) de forma autônoma. Essa atividade pode ser explorada por várias empresas devido à desconfiança da sociedade com os índices oficiais divulgados pelo INDEC. O governo argentino atuou de forma a reprimir essas atividades e conseguiu obter multas pesadas para essas empresas e para ela, que agia de forma individual. 

Como se essa pressão financeira não fosse suficiente, ela foi acusada criminalmente pelo governo aregentino em 2011. A acusação é utilização de informação falsa e, como consequência, ela sofre processos criminais  desde então. O site do ISI (International Statistical Institute) informou no dia 08/09/2015 que ela finalmente conseguiu ser inocentada pela justiça. Embora ainda restem as sanções financeiras, esperamos que esse triste episódio seja superado por completo o mais rápido possível.


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