http://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-37537629
A Colômbia é um pais vizinho ao Brasil que nas últimas décadas esteve assolado por guerrilhas e conflitos a ela associados. Esses conflitos provocaram a morte de centenas de milhares de pessoas e o sequestro de dezenas de milhares de pessoas. Assim, trata-se de situação traumática para a história do país. Nos últimos anos, as forças guerrilheiras entraram em declínio por uma série intricada de motivos mas ela ainda permanece viva e não houve nenhum encerramento oficial com deposição de armas.
Assim, houve uma comoção no país quando começaram as negociações de paz entre o governo colombiano e as lideranças da FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), patrocinadas pelo governo cubano. Esse processo atingiu o ápice quando as negociações de paz culminaram em um acordo de paz selado na histórica cidade colombiana de Cartagena no mês passado. A seguir, esse acordo foi colocado para homologação pelo povo colombiano através de um plebiscito.
Vários interesses foram incorporados a esse processo ao longo da
negociação por seus diferentes atores, que incluem não apenas governo e
guerrilheiros mas o exército colombiano, os grupos de milícia
paramilitares e os grandes fazendeiros, muito afetados pelas atividades
essencialmente rurais das guerrilhas. Para chegar a esse acordo, houve
uma série de concessões de ambos os lados, como ocorre em acordos. Entre
eles, chamou a atenção a anistia dada aos guerrilheiros.
Devido aos traumas causados a gerações de colombianos, essa possibilidade de acordo foi vista com muita esperança por boa parte dos colombianos e até mesmo da comunidade internacional. Pesquisas de opinião de diferentes institutos de pesquisa refletiram esse clima, que parecia reinante no país, ao apontar uma vitória confortável para a aprovação do acordo. Veja resultados das pesquisas de opinião feitas por diferentes institutos aqui e aqui. A bem da verdade, vale ressaltar que as pesquisas apresentaram um alto nível de abstenção, ao redor de 50%. Isso já sugeria um cuidado especial no tratamento dos resultados dessas pesquisas.
O plebiscito foi realizado no início de outubro de 2016 e teve a participação de apenas 37% do eleitorado, revelando um nível de abstenção ainda maior que as pesquisas apontavam. Fenômeno similar (embora em menor intensidade) aconteceu no 1o turno das eleições para prefeitos e vereadores no Brasil, ocorrida no mesmo dia do plebiscito colombiano por coincidência. O plebiscito acabou por apontar a vitória muito apertada da rejeição ao acordo por 50,2% contra 49,8%. A surpresa causada por essa decisão soberana do povo colombiano se assemelha à surpresa causada recentemente pelo povo britânico ao optar por sair da comunidade européia, ponto esse já tratado recentemente aqui.
Se na Grã-Bretanha o episódio foi intitulado aqui como verdade oculta, essa caracterização ainda é mais apropriada para esse episódio na Colômbia. Embora o nível de injunções políticas dos 2 episódios pode ser considerado similar, o nível de periculosidade para o povo colombiano associado a este plebiscito é muito maior que no episódio europeu. Quanto à relação com a Estatística, os perigos aqui envolvidos eram muito maiores. A sensitividade do tema já requeria cuidados extras. Além disso, o alto nível de abstenção já estava presente nas pesquisas de opinião. Isso precisaria ser levado em conta quando se procura extrapolar resultados de pesquisas incompletas de opinião para o resultado final do plebiscito. Nos casos em que a abstenção é alta, entender o padrão das abstenções pode ser tão importante quanto entender o padrão das opiniões a favor do Sim e do Não.
Imagino se o fato das pesquisas de opinião estarem indicando uma alta aceitação do acordo e a vitória fácil do SIM, possa ter levado às urnas em peso para vota NÃO aqueles que eram contra, desequilibrando o resultado final.
ResponderExcluirÓtimo ponto, Bernardo. Ele é válido para qualquer pesquisa de opinião. Diferentes países tem diferentes leis que regem essas pesquisas. Em alguns deles, existe um período antes das eleições onde as pesquisas não podem ser divulgadas justamente para evitar esse tipo de efeito.
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