fonte desconhecida
Esse é um tema que há algum tempo não vinha sendo tratado aqui. Mas a figura acima reacendeu o interesse pela volta ao tema. Ela foi veiculada em lista de mensagens entre professores universitários e serviu para ilustrar efeitos potencialmente nocivos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que visa controlar os gastos do governo federal por 20 anos.
A figura mostra os valores em reais dos salários de professores universitários sob 2 regimes de correção de valores: o efetivamente praticado e caso ele fosse reajustado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ela foi usada por professores universitários para mostrar que mudanças trazidas pela PEC teriam implicado em perdas salariais substantivas em 2014 caso tivessem sido implementadas a partir de 1998. Essa linha de raciocínio carece de suporte por uma série de motivos.
Para começar, não existe nada na PEC sobre aumento de salários do funcionalismo federal através do IPCA ou sobre o aporte de recursos a ser alocado para a área de Educação. A PEC estabelece apenas que o limite de gastos não seja desrespeitado e seja reajustado com relação aos gastos do ano anterior pelo IPCA. Assim, ela tanto permite que não haja aumento nenhum para professores universitários como também permite aumento de acordo com o IPCA ou mesmo acima dele para qualquer grupo de funcionários que o executivo e o congresso julguem merecedores. Para essa última opção, basta que outros setores geradores de despesas sejam menos contemplados.
Mas esses são fatores intrinsecamente ligados à PEC. Existem outros fatores mais afeitos a nossa área (análise de dados) que se tornam mais relevantes nessa comparação baseada apenas no gráfico. A situação que o país vivia em 1998 era bastante diferente da situação que o país vive nos dias de hoje. Havia uma defasagem salarial importante em termos reais na década de 90 cuja negociação foi implementada. Além disso, houve um período de relativa prosperidade no final da década de 90 que ensejou a possibilidade de ganhos reais. Bastante diferente da situação vivida pelo país nos dias de hoje. Além disso, seria bom ficar explicitado porque a comparação começa em 1998 e não em outro ano, por exemplo 1995 ou 2000.
Fazer uma comparação baseada em hipóteses não explicitadas e sem contextualização das situações carece do rigor exigido para poder emprestar algum valor a conclusões dela extraídas. Não quero dizer com isso que o raciocínio utilizado está equivocado. Apenas que a evidência trazida pelo gráfico é insuficiente para maiores conclusões.
O exemplo a seguir, que me foi trazido por um amigo, serve como metáfora. Um indivíduo começa a fazer um tratamento agressivo para controlar um câncer. Sabemos que o tratamento terá efeitos colaterais graves mas existe uma boa probabilidade de cura do mal maior, a doença. Por isso, o tratamento é sancionado pelas autoridades sanitárias e o indivíduo acaba curado em muitos casos. [Poderia se contra-argumentar que muitos indivíduos submetidos ao tratamento terão sequelas. Essa linha de raciocínio esquece que se o tratamento não for feito, todos os pacientes acabariam falecendo de qualquer modo.] Suponha agora que o indivíduo tivesse se submetido a esse mesmo tratamento muitos anos antes de desenvolver a doença. Ele teria sofrido todos os efeitos colaterais sem necessidade. Todos sabemos que remédios só devem ser usados quando necessário.
Guardadas as devidas proporções, a metáfora ilustra bem a situação que vivemos hoje no país. A situação financeira do país está enferma. Serão precisos remédios com efeitos colaterais sabidamente nocivos com ou sem aprovação da PEC. A moral dessa pequena e simplificada estória é que não se podem comparar situações diferentes sem a devida contextualização. Variáveis que fazem essa contextualização são apropriadamente chamadas de variáveis de confundimento; esse assunto já foi tratado aqui. Usuários desavisados sobre a complexidade da situação (talvez por serem de outras áreas do conhecimento) acabam se confundindo ao não as incluir nas análises. Com isso, correm o risco de chegar a conclusões indevidas.
A figura mostra os valores em reais dos salários de professores universitários sob 2 regimes de correção de valores: o efetivamente praticado e caso ele fosse reajustado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ela foi usada por professores universitários para mostrar que mudanças trazidas pela PEC teriam implicado em perdas salariais substantivas em 2014 caso tivessem sido implementadas a partir de 1998. Essa linha de raciocínio carece de suporte por uma série de motivos.
Para começar, não existe nada na PEC sobre aumento de salários do funcionalismo federal através do IPCA ou sobre o aporte de recursos a ser alocado para a área de Educação. A PEC estabelece apenas que o limite de gastos não seja desrespeitado e seja reajustado com relação aos gastos do ano anterior pelo IPCA. Assim, ela tanto permite que não haja aumento nenhum para professores universitários como também permite aumento de acordo com o IPCA ou mesmo acima dele para qualquer grupo de funcionários que o executivo e o congresso julguem merecedores. Para essa última opção, basta que outros setores geradores de despesas sejam menos contemplados.
Mas esses são fatores intrinsecamente ligados à PEC. Existem outros fatores mais afeitos a nossa área (análise de dados) que se tornam mais relevantes nessa comparação baseada apenas no gráfico. A situação que o país vivia em 1998 era bastante diferente da situação que o país vive nos dias de hoje. Havia uma defasagem salarial importante em termos reais na década de 90 cuja negociação foi implementada. Além disso, houve um período de relativa prosperidade no final da década de 90 que ensejou a possibilidade de ganhos reais. Bastante diferente da situação vivida pelo país nos dias de hoje. Além disso, seria bom ficar explicitado porque a comparação começa em 1998 e não em outro ano, por exemplo 1995 ou 2000.
Fazer uma comparação baseada em hipóteses não explicitadas e sem contextualização das situações carece do rigor exigido para poder emprestar algum valor a conclusões dela extraídas. Não quero dizer com isso que o raciocínio utilizado está equivocado. Apenas que a evidência trazida pelo gráfico é insuficiente para maiores conclusões.
O exemplo a seguir, que me foi trazido por um amigo, serve como metáfora. Um indivíduo começa a fazer um tratamento agressivo para controlar um câncer. Sabemos que o tratamento terá efeitos colaterais graves mas existe uma boa probabilidade de cura do mal maior, a doença. Por isso, o tratamento é sancionado pelas autoridades sanitárias e o indivíduo acaba curado em muitos casos. [Poderia se contra-argumentar que muitos indivíduos submetidos ao tratamento terão sequelas. Essa linha de raciocínio esquece que se o tratamento não for feito, todos os pacientes acabariam falecendo de qualquer modo.] Suponha agora que o indivíduo tivesse se submetido a esse mesmo tratamento muitos anos antes de desenvolver a doença. Ele teria sofrido todos os efeitos colaterais sem necessidade. Todos sabemos que remédios só devem ser usados quando necessário.
Guardadas as devidas proporções, a metáfora ilustra bem a situação que vivemos hoje no país. A situação financeira do país está enferma. Serão precisos remédios com efeitos colaterais sabidamente nocivos com ou sem aprovação da PEC. A moral dessa pequena e simplificada estória é que não se podem comparar situações diferentes sem a devida contextualização. Variáveis que fazem essa contextualização são apropriadamente chamadas de variáveis de confundimento; esse assunto já foi tratado aqui. Usuários desavisados sobre a complexidade da situação (talvez por serem de outras áreas do conhecimento) acabam se confundindo ao não as incluir nas análises. Com isso, correm o risco de chegar a conclusões indevidas.
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