terça-feira, 15 de novembro de 2016

Eleição de Donald Trump

Mark Kauzlarich/Reuters

Mais uma vez o mundo foi pego de surpresa na semana passada. Desta vez, com a divulgação da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas. Eleitores de Hillary Clinton ficaram incrédulos com o resultado das eleições. Afinal, a grande maioria das previsões apontavam alta probabilidade de vitória para Hillary.

Essa história já está até repetitiva neste ano. Ela foi repercutida aqui tanto por ocasião do plebiscito do Brexit no Reino Unido quanto no plebiscito do armistício com a guerrilha na Colômbia. Todos esses eventos mostram uma demonstração inequívoca pelo povo de posições menos politicamente aceitáveis. Todos esses eventos tiveram pesquisas de opinião eleitorais que erraram ao apontar a vitória da posição mais facilmente externável pelos eleitores.

Já haviamos alertado aqui que dificuldades em pesquisas de opinião associadas a esse tipo de situação são comuns. O que acontece muitas vezes é que as pessoas não se sentem a vontade de externar opiniões controversas mesmo que as tenha. A foto acima ilustra bem o estado de espírito com a vitória, a partir da qual tornou-se aceitável externalizar a opinião da maioria silenciosa no caso americano. 

Esse evento da semana passada entretanto tem componentes relevantes que a diferem dos eventos passados. Para começar, é preciso informar que o vitorioso nas eleições americanas não é necessariamente o candidato mais votado em todo o território americano. Isso já aconteceu em eleições passadas e foi repetido nas eleições da semana passada: Hillary Clinton obteve um total de votos superior ao de Donald Trump. Mas o sistema de votação americano tem suas peculiaridades que tornam o resultado mais difícil de prever. 

O sistema de votação é indireto com o presidente sendo efetivamente eleito por um colégio de representantes indicados por estados. O número de representantes de cada estado é igual ao de deputados e senadores de cada estado. Isso já promove uma pequena distorção que favorece os pequenos estados pois todos estados grandes ou pequenos tem o mesmo número de senadores. Além disso, na imensa maioria dos estados todos os votos do colégio eleitoral vão para o vencedor no estado, seja ele vencedor por 50,1% ou por 99%. Isso introduz mais uma distorção na passagem do número de votos para os candidatos. 

Essa dificuldade na previsão do vitorioso é obviamente bem conhecida dos institutos de pesquisa mas introduz uma complexidade não trivial na determinação de quem vai ganhar. Era sabido que havia estados onde o resultado seria muito apertado, geralmente os swing states onde o eleitorado é mais volátil e oscila entre os partidos ao longo das sucessivas eleições. Assim, chegou a surpreender que muitos institutos previram alguma vitória (no caso, de Hillary) com alta probabilidade, em torno de 90%.  É bem verdade que o 538 de Nate Silver previu a vitória de Hillary com uma ainda alta mas mais aceitável probabilidade de 73%

Mesmo institutos de pesquisa proclamados como vencedores por terem acertado o vencedor cometeram erros importantes na proporção total de votos para cada candidato. A bem da verdade, a maioria dos institutos acertou que Hillary ganharia o voto popular. Os erros que esses institutos cometeram foram na margem bem menos elástica dessa vitória e a conversão do voto popular no número de delegados. Assim, além das dificuldades associadas à exacerbação das manifestações antes das eleições e à existência de um candidato que assumia ser incorreto politicamente, havia esse componente complicador: a tradução dos votos da população para os votos no colégio eleitoral.

Com a aproximação do momento da eleição, foi ficando claro que a eleição seria apertada e a existência de estados de difícil definição tornava ainda mais incerto o seu resultado. Acredito que os institutos devam estar agora revendo seus protocolos para poder fornecer probabilidades mais realistas de vitória de um candidato. 

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