terça-feira, 11 de abril de 2017

A academia agoniza

 

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por Gauss M. Cordeiro*
 

Nas prestigiosas universidades estrangeiras, a carreira acadêmica é viva, dinâmica e evolutiva e norteada pelos valores de competência, eficiência e disciplina. A produtividade científica permeia as atividades-fim e o objetivo primordial é formar bons profissionais com conhecimentos técnicos, filosóficos, científicos e artísticos que produzam muitos efeitos benéficos na sociedade. Nelas, o ensino superior é realmente de qualidade.
 
Às avessas, existe um gigantismo que assola as nossas universidades públicas (estaduais e federais) e um número significativo de professores só faz cumprir carga horária. Com efeito, esses docentes se dedicam a outras atividades que lhes oferecem maior retorno financeiro. Muitos outros professores não têm qualquer interesse na pesquisa científica, o que se reflete na nossa baixa produtividade científica e no desempenho pífio do ensino de qualidade. Muito poucas áreas do conhecimento do País aparecem entre as 200 melhores do planeta quando avaliadas nos mais conceituados rankings acadêmicos internacionais. Em nossas instituições, ocorre um nivelamento por baixo que não permite distinguir aqueles que realmente produzem daqueles que apenas hibernam. A variável "mérito" não faz parte de muitos objetivos da vida acadêmica. Nas universidades federais, por exemplo, para ascender na carreira, basta não fazer nada. A promoção ocorre quase de forma automática por tempo de serviço. O corolário mais evidente é inevitável: irrelevância da grande maioria dessas instituições no cenário científico internacional.   

Adicionalmente, os sindicatos docentes são formados, em boa parte, por professores que não têm o mínimo compromisso com a pesquisa e, obviamente, seus interesses são norteados pelo corporativismo exacerbado. Se fosse colocada em artigos científicos a mesma energia gerada em debates sindicais, o Brasil seria uma superpotência. Aqueles professores que realmente ensinam e publicam ganham muito mal, mas os demais que não fazem essas duas atividades ganham bem. Essa distorção precisaria ser corrigida de forma firme pelo Governo Federal.

Ao longo dos últimos anos, presenciamos vários eventos que se combinam para desmantelar qualquer ambiente acadêmico no País que pretenda esboçar excelência. Nominalmente, temos: invasões descabidas de salas de aulas e de prédios das universidades por alunos delapidando o patrimônio público; destruição dos valores acadêmicos baseados no mérito; infraestrutura extremamente precária; greves literalmente direcionadas por simpatizantes de partidos políticos, numa nítida afronta à nobreza e à pluralidade das nossas instituições, prejudicando milhares de alunos que realmente querem estudar; vestibular com fraquíssimo crivo de seleção; excessivas preocupações com evasão ou reprovação, mas pouco esforço em melhorar o ensino; priorização em criar novos cursos e diplomar alunos em grande quantidade sem necessariamente zelo pela qualidade; desmotivação dos professores mais destacados. Efetivamente, vem-se introduzindo de forma acentuada ações assistencialistas que exaltam apenas a mediocridade.  
 
Pior ainda, persiste preocupante que grandes instituições privadas de ensino superior se comportam apenas como meras fábricas de diplomas que objetivam não mais que maximizar o lucro deixando à margem a qualidade acadêmica. Sir Winston Churchill afirmava que os "impérios do futuro são impérios da mente". Infelizmente, o ensino superior do Brasil persiste na contra mão dos países desenvolvidos. 
 
* Gauss M. Cordeiro é Professor Titular de Estatística da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O texto foi publicado na Folha de Pernambuco no dia 27 de janeiro de 2017. 

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