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por Gauss M. Cordeiro*
Nas
prestigiosas universidades estrangeiras, a
carreira
acadêmica é viva, dinâmica e evolutiva e norteada pelos valores de
competência,
eficiência e disciplina. A
produtividade
científica
permeia as atividades-fim e
o objetivo
primordial
é formar bons profissionais com conhecimentos técnicos, filosóficos, científicos
e artísticos que produzam muitos
efeitos
benéficos na sociedade. Nelas, o ensino superior é realmente de
qualidade.
Às avessas,
existe um
gigantismo que assola
as
nossas universidades públicas (estaduais e federais)
e
um
número
significativo
de professores só faz cumprir carga horária. Com
efeito, esses
docentes
se dedicam a outras atividades que lhes oferecem maior retorno
financeiro.
Muitos outros professores não têm qualquer interesse na pesquisa científica, o
que se reflete na nossa baixa produtividade científica
e no desempenho
pífio
do ensino de qualidade. Muito poucas
áreas do conhecimento do
País
aparecem entre
as 200 melhores do planeta quando avaliadas nos mais conceituados
rankings acadêmicos internacionais.
Em
nossas instituições, ocorre um nivelamento por baixo que não permite
distinguir
aqueles que realmente produzem daqueles que apenas hibernam. A
variável "mérito" não faz parte
de
muitos objetivos da vida acadêmica.
Nas
universidades federais, por exemplo, para ascender na carreira, basta não
fazer
nada. A promoção ocorre quase de forma automática por tempo de
serviço.
O
corolário mais evidente é inevitável: irrelevância
da grande
maioria
dessas instituições no cenário científico internacional.
Adicionalmente,
os sindicatos docentes são formados, em boa
parte,
por professores que não têm o mínimo compromisso com a pesquisa e,
obviamente,
seus interesses são norteados pelo corporativismo exacerbado. Se
fosse colocada
em
artigos científicos a mesma energia gerada em debates sindicais, o Brasil
seria
uma superpotência. Aqueles
professores
que
realmente ensinam e publicam ganham muito mal, mas os demais que não
fazem
essas duas atividades ganham bem. Essa distorção precisaria ser corrigida
de
forma firme pelo Governo Federal.
Ao
longo dos últimos anos, presenciamos vários eventos que
se
combinam para desmantelar qualquer ambiente acadêmico no País que
pretenda
esboçar excelência. Nominalmente, temos: invasões descabidas de salas de
aulas
e de prédios das universidades por alunos delapidando o patrimônio
público;
destruição dos valores acadêmicos baseados no mérito;
infraestrutura
extremamente precária; greves literalmente direcionadas por simpatizantes de
partidos
políticos, numa nítida afronta à nobreza e à pluralidade das nossas
instituições,
prejudicando milhares de alunos que realmente querem estudar; vestibular
com
fraquíssimo crivo de seleção; excessivas preocupações com evasão ou
reprovação,
mas pouco esforço em melhorar o ensino; priorização em criar novos cursos
e
diplomar alunos em grande quantidade sem necessariamente zelo pela
qualidade;
desmotivação dos professores mais destacados. Efetivamente, vem-se
introduzindo
de forma acentuada ações assistencialistas que exaltam apenas
a
mediocridade.
Pior ainda,
persiste preocupante que grandes
instituições
privadas de ensino superior se comportam apenas como meras fábricas de
diplomas
que objetivam não mais que maximizar o lucro deixando à margem a
qualidade
acadêmica. Sir Winston Churchill afirmava que os "impérios do futuro
são
impérios da mente". Infelizmente, o ensino superior do Brasil persiste
na
contra
mão dos países desenvolvidos.
* Gauss
M.
Cordeiro é Professor Titular de Estatística da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O texto foi publicado na Folha de Pernambuco no dia 27 de janeiro de 2017.
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