AP Photo/Santi Palacios
Recentemente aconteceram plebiscitos importantes onde populações foram consultadas sobre a independência da região consultada com relação ao governo central do país onde estão situadas. Sem dúvida, o plebiscito mais importante foi o da independência da Catalunha, com relação à Espanha onde essa província autônoma está situada. Outro plebiscito ocorreu no sul do país, onde a população dos 3 estados dessa região foi consultada sobre a possibilidade de se separar do resto do país. Existem dúvidas sobre o carater oficial desses plebiscitos mas o fato é que eles foram realizados.
Ambos os plebiscitos exibiram resultados similares: mais de 90% dos votantes foram favoráveis à independência da região. Isso poderia levar-nos a apressadamente assumir que a população consultada quase unanimemente apoia a independência da região. As próprias manchetes exibidas pela mídia apontavam isso. Uma análise um pouco mais cuidadosa mostra que não é bem assim.
O caso do Brasil é mais claro e fácil de explicar. Embora existam diferenças regionais no nosso país, que devem ser reconhecidas e preservadas, não há uma cultura diferenciada e o país é bastante bem miscigenado, impedindo por exemplo que diferentes línguas fossem criadas e preservadas. O que existem são costumes e sotaques diferenciados. Assim, o ímpeto por processos separatistas fica claramente atenuado.
De fato, o interesse no plebiscito foi muito reduzido, não chegou a virar notícia no resto do país e teve uma presença muito reduzida, de apenas 5% da população dos 3 estados. Na realidade, não foi a primeira vez que tal plebiscito foi realizado e nas anteriores também foi registrada uma baixa presença. Talvez indicando que não há interesse no assunto por parcela expressiva da população do sul do país. Assim, torna-se no mínimo inadequado tomar resultados desse tipo de plebiscito como sendo representativo da população consultada.
O caso da Catalunha já é um pouco diferente. Apesar da ameaça de repressão anunciada pelo governo espanhol, uma parcela expressiva da população compareceu à votação. A repressão acabou se concretizando, gerando uma série de conflitos das polícias com a população civil que causou dezenas de feridos e desencadeando um sem número de reações contrárias ao governo central. Mas é importante entender que a repressão pode ter contribuído para a diminuição da presença da população, especialmente os mais idosos, embora possa também se argumentar que ela incentivou pessoas que talvez estivessem indiferentes a participar da consulta como forma de protesto.
Além disso, um outro fator importante diferencia a Catalunha do sul do Brasil. Os catalães possuem uma cultura própria e uma língua própria que os diferenciam do resto da Espanha. Essa cultura foi construída ao longo de séculos de existência, algo impensável para um país como o Brasil com apenas 5 séculos de existência.
Com tudo isso, não é de se estranhar que a presença no plebiscito catalão tenha sido substancialmente maior que a no plebiscito sulista, apesar da repressão. Mesmo assim, a presença chegou a 2 milhões de pessoas, ou cerca de 43%. Apesar de ser um número expressivo para uma consulta, considero baixo para servir de base para tomar o resultado como posição da população catalã. De fato, algumas semanas depois houve uma manifestação expressiva da população dessa região, com uma passeata de cerca de 1 milhão de pessoas, pedindo a permanência da Catalunha dentro da Espanha.
Não quero fazer uma análise profunda dos diferentes aspectos dos problemas associados a esses plebiscitos, inclusive porque foge do escopo do StatPop. O único ponto que quero salientar aqui é que, para além das diversas injunções do problema em estudo, é fundamental olharmos sempre para os dados com isenção para poder extrair deles apenas aquilo que eles podem nos dar, nada a mais nem a menos.
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