segunda-feira, 4 de junho de 2018

O valor de mercado de um jogador de futebol

http://www.pluriconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Palestra-UTP-090317.pdf

Estamos às vésperas de mais uma Copa do Mundo (de futebol), trazendo novamente para a vitrine um de meus assuntos prediletos. Dessa vez, queria tratar de um assunto que se torna cada vez mais relevante no mundo tão globalizado e multimilionário do futebol. Estamos presenciando uma relevância cada vez maior dos esportes na vida da sociedade e essa exposição está intimamente assocada ao custo de contratação de um jogador de futebol. Essa tendência vem se acentuando progressivamente a ponto de um jogador de apenas 17 anos (idade insuficiente para antever a real capacidade de performance de um jogador) ser vendido pela bagatela de 45 milhões de euros (aproximadamente 220 milhões de reais). Essa negociação está longe de ser uma excentricidade e negócio com promessas ainda mais jovens, de idade entre 10 e 15 anos estarem sendo realizadas.

A prematuridade de um jogador de 17 anos fica mais acentuada quando se leva em conta a sua capacidade de atuar em sua plenitude. O gráfico acima, extraído de uma apresentação da empresa de consultoria esportiva Pluri, sustenta que isso só é atingido em torno de 26-27 anos de idade, entrando em declínio a seguir até o momento de atingir sua aposentadoria esportiva. Esse gráfico está referenciado ao ano passado. É interessante comparar com o mesmo gráfico de alguns poucos anos atrás, reproduzido abaixo.

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http://www.pluriconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Palestra-UTP-090317.pdf

O aspecto que chama mais a nossa atenção nesse último gráfico na comparação com o gráfico anterior foi o deslocamento do pico do valor de mercado. Ao longo de 6 anos, o pico do valor de mercado caiu de 26 para 24 anos. Isso reflete algumas mudanças importantes no futebol nos últimos anos. As exigências físicas aos jogadores são cada vez mais intensas no futebol dos dias de hoje fazendo com que o vigor das idades mais novas seja privilegiado financeiramente no contraste com a experiência. Além disso, os contratos feitos hoje em dia são bem diferentes dos feitos alguns anos atrás.

Paralelamente, acaba de ser divulgado um estudo do Football Observatory do CIES, um centro internacional de estudos do esporte, também sobre valor de mercado de jogadores. Esse estudo divulgou os valores de mercado dos 100 jogadores mais valiosos segundo o algoritmo desse observatório. Eu tomei esse levantamento e verifiquei quais foram selecionados para ir à Copa do Mundo pelos seus países. Para não fazer a conta para todos os 32 países participantes, me ative apenas aos países que já venceram uma edição da Copa do Mundo. Como Itália não participará dessa edição da Copa, foram computados apenas os resultados de Alemanha, Argentina, Brasil, França, Espanha, Inglaterra e Uruguai.

Os selecionados desses países aparecem nessa lista de 100 jogadores nas seguintes posições:
Alemanha (8 selecionados): 25, 37, 52, 55, 58, 83, 94, 98
Argentina (5 selecionados): 4, 9, 22, 27, 44
Brasil (9 selecionados): 2, 12, 15, 16, 21, 57, 67, 72, 88
Espanha (5 selecionados): 26, 36, 42, 51, 56
França (9 selecionados): 3, 8, 14, 45, 46, 63, 76, 86, 93
Inglaterra (8 selecionados): 1, 6, 29, 34, 41, 47, 50, 62
Uruguai (1 selecionado): 18

Quase todos os países acima tiveram jogadores na lista dos 100 mais que não foram selecionados para a Copa do Mundo. Chamaram mais a atenção os nomes de Sané da Alemanha (13o na lista) e Icardi da Argentina (32o na lista) por conta das altas posições na lista. O 1o e o 6o jogadores dessa lista pertencem ao mesmo time inglês, Tottenham, que não ganha título importante há algum tempo. Isso também denota uma certa preferência ou influência do futebol inglês, que não chega a ser despropositada por ser este o campeonato mais rico do mundo. Assim, não é recomendável tomar essa lista como padrão ouro da qualidade de um jogador.

A lista apresenta uma preponderância de Alemanha, Brasil e França em termos do número de jogadores no topo do futebol mundial. Análise mais detalhada da lista apresenta uma clara preferência aos jogadores mais jovens, em consonância com os resultados mostrados nos gráficos acima. Assim, ter mais jogadores ou ter jogadores melhor classificados na lista é mais uma indicação de juventude ou promessas do que de materialização imediata de performance. Portanto, esses indicadores não são necessariamente indicadores do resultado desta edição da Copa do Mundo. Talvez reflitam melhor um indicador para a próxima edição da Copa, caso os jogadores mantenham sua performance. Por isso mesmo, a Espanha não pode ser desconsiderada apesar do baixo número de jogadores na lista, por conta da presença de vários expoentes já mais experientes como Iniesta. Eles ainda podem fazer a diferença em um torneio de tiro curto, com apenas 7 jogos.

O futebol está mudando para um esporte onde ainda predomina a habilidade mas a componente física está cada vez mais presente. As 2 fontes acima atuaram de forma independente em suas análises e chegaram ao mesmo tipo de resultado. Por outro lado, o futebol se mantem como uma fonte substantiva de recursos para investidores o que faz com que o jogo esteja cada vez mais profissionalizado, sem espaço para amadores.

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