terça-feira, 21 de agosto de 2018

Formação de Bacharéis em Estatística - Brasil x EUA

por Doris Fontes*

Fonte: Doris Fontes

Achei esse artigo interessante da ASA [sobre a formação de bacharéis em Estatística nos Estados Unidos] .

Enquanto aqui, desde 2004 (quando eu comecei a acompanhar o Censo do INEP), temos a seguinte situação, resumidamente:

[O gráfico acima mostra o] nº de programas de Graduação em Estatística aqui e nos EUA, além do programa de mestrado em estatística. Notem que o número de bacharelados em estatística aqui no Brasil cresce a partir de 2007, acredito eu, por causa do REUNI.

Sem contar que lá existem muitos programas de graduação e pós somente em BIOESTATÍSTICA, enquanto que aqui só temos UM programa de mestrado (UEM) e nenhum bacharelado.

Em termos de egressos, temos a seguinte situação (até o último censo divulgado do INEP):

Fonte: Doris Fontes


Um fato relevante nos EUA é a explosão de interessados no programa de AP STATISTICS: saltou de menos de 8 mil em 1997 para pouco mais de 205 mil participantes em 2016.

(The AP Statistics course is equivalent to a one-semester, introductory, non-calculus-based college course in statistics. The course introduces students to the major concepts and tools for collecting, analyzing, and drawing conclusions from data. There are four themes in the AP Statistics course: exploring data, sampling and experimentation, anticipating patterns, and statistical inference. Students use technology, investigations, problem solving, and writing as they build conceptual understanding.  https://apcentral.collegeboard.org/courses/ap-statistics/course)

Fonte: Doris Fontes

Comparando egressos vs vagas oferecidas pelas universidades brasileiras, temos:

Fonte: Doris Fontes

Formandos por tipo de universidade:

Fonte: Doris Fontes

O número de vagas oferecidas também cresceu a partir de 2007 (REUNI), mas o número de egressos não aumentou. Está estagnado ou, pior, menor que em 2004. Poderíamos dizer que, a grosso modo, a taxa de evasão da estatística beira os 75%. 

No Brasil já começa a aparecer programas de graduação e pós em Ciência de Dados, como no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte (MG). Não sei qual a qualidade desses programas. Alguns cursos de pós chegam a abordar apenas introdução à estatística.

As vagas para profissionais de Analytics/Big Data/Data Science cresce muito no mundo todo. Se você entrar hoje no site do indeed.com e fizer uma busca por "analytics", vai encontrar algo como 140 mil vagas. Lógico que tem muita coisa misturada, mas mostra o potencial de mercado para quem sabe analisar dados. No blog do CONRE-3 de Oportunidades de Trabalho para Estatísticos (https://www.facebook.com/groups/statjobs/), hoje com pouco mais de 11 mil membros, temos divulgado mais de 2 mil vagas de trabalho por ano -- e são vagas parciais, pois muitas empresas publicam apenas na Catho, ou sequer divulgam (preenchimento através de indicações somente). Se formamos menos de 400 num ano, está claro que não temos capacidade para prover profissionais para o mercado interno. Pior ainda, alguns bons estatísticos saem do país.

Talvez possamos pensar juntos sobre formas de melhorar esse índice de evasão, num programa conjunto, mais agressivo, de divulgação da nossa área junto aos alunos do ensino médio. O CONRE-3 tem recursos bem pequenos (muito em função do desinteresse dos estatísticos pelo seu conselho profissional -- às vezes até boicote de formandos e professores), mas, dentro do possível, temos tentado implementar muitos programas de valorização, divulgação e fortalecimento da nossa profissão: eventos ligados ao mercado de trabalho, TENDA ESTATÍSTICA (através de esforço conjunto com a ABE e SBPC) para estudantes de todas as idades, palestras em escolas ou envio de material de divulgação da estatística aos alunos de EM; ajuda aos deptos de estatística com palestras e materiais de apoio; ajuda a eventos variados (como o SINAPE, RBras/SEAGRO, Semests, feira de profissões, etc). Somos auditados anualmente pelo TCU e não temos muita flexibilidade para o uso de nossa verba, então, trabalhamos dentro das nossas possibilidades.

O problema de evasão é grave, triste e precisa ser estudado e combatido. Alegar simplesmente que os alunos que entram são fracos não é razoável. A falta de prestígio da nossa área pode atrair um monte de alunos interessados apenas na baixa concorrência nos vestibulares. Isso não é bom.

Na última reunião que o Julio Trecenti (presidente do CONRE-3) e eu (como vice-presidente) tivemos no conselho federal, no RJ, discutimos a "morte" da nossa carreira no mercado de trabalho para o cientista de dados. Já há deptos de computação interessados em oferecer Bacharelado em Ciência de Dados, assim como há engenharias interessadas em "Engenharia Estatística".

Enfim, pensei em compartilhar um pouco das minhas preocupações.


* - Doris Fontes é atual vice-presidente e ex-presidente do CONRE-3 (Conselho Regional de Estatística, 3a região (SP-PR-MT-MS))

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