terça-feira, 14 de agosto de 2018

Um relato da visita do Michael Jordan à UFRJ


fonte: Asses. Comunicação COPPE


A visita do Prof. Michael Jordan à UFRJ foi anunciada aqui na postagem da semana passada. Ela foi divulgada por vários institutos e a propaganda deu certo! Após uma rápida visita ao Laboratório de Sistemas Estocásticos (LSE) da UFRJ, o Prof. Jordan se dirigiu à principal atividade da visita: sua palestra. O auditório da COPPE com capacidade para cerca de 300 pessoas estava super-lotado para a palestra, com algumas pessoas sentando nos corredores de acesso e outras ficando em pé no fundo. A platéia foi constituída de profissionais e alunos dos mais diferentes níveis das Ciências Exatas. Aliás, houve uma presença maciça de alunos de graduação, talvez atraídos pela fama que o palestrante adquiriu com seus trabalhos.

A palestra tratou de contextualizar a Ciência dos Dados nos dias de hoje como um guarda-chuva de oportunidades científicas, englobando áreas da Estatística, da Computação e da Matemática e pegando emprestado conhecimentos das Engenharias, Física e Química. Nesse sentido, Jordan considera natural o sentimento de incompreensão que muitos ainda nutrem pelas atividades dessa área.

O ponto que permeou toda a sua apresentação foi a ênfase na interdisciplinariedade da área, devido à sua necessidade de incorporar na análise componentes de Estatística mas também de Computação de forma imprescindível. Segundo ele, o conhecimento de técnicas estatísticas é fundamental para tratar incertezas adequadamente. Por outro lado, o uso de técnicas computacionais é imprescindível para otimizar o seu processamento e análise. Ele ilustrou esse ponto inicialmente falando das exigências da indústria em ter análises mais rápidas (instantâneas, se possível) na presença de grandes massas de dados. Para Jordan, o que caracteriza a grandeza de um conjunto de dados não é apenas a existência de muitas unidades observacionais (big n) mas principalmente a disponibilidade de muita informação sobre cada unidade observada (big p). É essa segunda característica que é responsável pela necessidade de melhores técnicas estatísticas, para possibilitar melhores previsões a nível dos indivíduos (e não apenas a nível de agregados populacionais como média e variância) de acordo com suas características. 

fonte: Asses. Comunicação COPPE

A partir daí, ele procurou exemplificar essa interdisciplinariedade com um tópico de sua pesquisa: tratamento da confidencialidade. A confidencialidade em uma análise de dados é garantida por algum procedimento de mascaramento ou embaralhamento dos dados para evitar a identificação de indivíduos. Isso é particularmente relevante em contextos sensitivos, como estudos sobre uso de drogas. Jordan entende que o mascaramento  é uma componente computacional que deve ser acrescida a uma análise estatística dos dados. O procedimento necessário para obter a solução teria portanto a componente estatística de minimização do risco do estimador, acoplada à otimização do embaralhamento. Ele enfatizou bastante a importância do tratamento do problema a nível do individuo com cada um podendo indicar a taxa de embaralhamento que deseja (indo de completo mascaramento até a ausência completa de mascaramento).

A seguir, ele apresentou um resumo do seu trabalho de melhoramento de algoritmos de obtenção de máximo de funções, que ele já tinha apresentado no encontro mundial do ISBA e já tinha sido relatado aqui. A palestra foi finalizada com um chamado de todos para a interdisciplinariedade, para melhor aproveitar as oportunidades desse janela que se abre no mundo da Ciência. A seguir, houve uma rodada de perguntas pela platéia, que focou mais em aspectos gerais de Ciência de Dados do que em assuntos tratados na palestra. O video da palestra pode ser visto aqui e o arquivo usado por ele na apresentação pode ser visto aqui.

fonte: Asses. Comunicação COPPE

A seguir, Michael seguiu para uma visita ao projeto MagLev, de transporte via Levitação Magnética, da COPPE. Lá ele foi recebido pelo coordenador do projeto que levou o grupo que acompanhava o visitante para um passeio no protótipo desenvolvido (como ilustrado na foto acima) e ouviu com atenção uma breve explanação do projeto. Finalmente, após pausa para almoço, ele concedeu uma entrevista a um jornal de grande circulação nacional. 

Embora a palestra não tenha trazido grandes novidades, a visita teve a importância de atrair pesquisadores maduros mas principalmente uma quantidade expressiva de jovens estudantes. Esse tipo de evento tem esse poder catalisador com efeitos potencialmente muito positivos. Nos momentos que antecederam o início da palestra, podia se sentir no ar do auditório a expectativa pela chegada do pesquisador ao recinto. Assim, acho que o evento foi um sucesso e pode ter, quem sabe, atraído e ajudado a definir as carreiras de alguns jovens promissores.

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