terça-feira, 30 de outubro de 2018

Questionamentos de estudantes de Estatística e Atuária

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A 7a Semana de Estatística e Atuária da UFRJ foi o tema de nossa postagem da semana passada. Ela foi encerrada com um debate com profissionais do mercado e professores dos cursos de graduação em Estatística e Atuária, ilustrado na foto acima. A organização compilou algumas das perguntas que foram formuladas pelos alunos para esse debate. Acho que oferecem um rico panorama das dúvidas e visões que os alunos tem sobre os cursos de Estatística e Atuária no pais. Nas próximas semanas tentarei respondê-las na medida do possível. Abaixo eu as transcrevo, na ordem que eu as recebi, para que todos os leitores possam ter um referencial de reflexão do onde os alunos percebem que a área está, para onde eles entendem que ela pode ir e que caminhos ela deve percorrer até chegar lá. Ei-las:

1. Uma preocupação: terminar o doutorado, sem experiência de mercado e já na casa dos 30. Será que o mercado será um pouco resistente a esse profissional? 

2. Atualmente, tem-se passado a sensação de que estamos vivendo um “boom” de métodos de previsão e modelagem (ou apenas algoritmos). Entretanto, muito se lê sobre técnicas que não passaram por demonstrações matemáticas de sua funcionalidade. Entretanto, elas cumprem seu papel e respondem as perguntas que são feitas. A dúvida é, até onde vai a necessidade do formalismo em relação ao uso dos métodos? 

3. Uma das corridas atuais em relação à computação é para a eficiência computacional do que está sendo feito. Tenta-se fazer as coisas de forma rápida e automática. Na inferência bayesiana, em muitos cenários nos deparamos com modelos que ficam até dias rodando. Devemos começar a pensar em aproximação, para chegarmos em resultados mais rápidos?

4. Vejo diariamente ofertas de emprego para cientista de dados. Em todos os cantos lemos que é uma profissão expoente e que existem muito mais vagas que profissionais. Entretanto, paralelo a isso, vejo muitos profissionais de áreas correlatas, desempregados. Na medida do possível, o que pode ser feito para melhorar essa relação? A sensação que fica é de que as empresas querem um profissional e no mercado existe outro. Claro, uma saída óbvia, é o empenho do profissional para a adequação, mas as empresas também não deveriam estar mais dispostas a acreditar no potencial de evolução do profissional dentro da empresa? 

5. Estatístico pode ser considerado cientista de dados? Por que? 

6. Por que quem não é formado em estatística pode dar aula de estatística em faculdades particulares? 

7. Os professores já estão aptos a ensinar os alunos as disciplinas de "ciências de dados"? 

8. Enquanto o curso de estatística forma 2 alunos, a computação (de forma generalizada) forma 200 a 300. Seremos engolidos? Como evitar isso? 

9. Será que a solução está na reformulação dos cursos de estatística ou na melhora da comunicação entre academia e mercado? 

10. Quando entramos na graduação, fazemos um curso de análise exploratória de dados e já aprendemos, mesmo sem muita base, como manipular um banco de dados. É válido ter uma matéria de último período de análise exploratória de dados, agora com a formação em rumo de ser concluída? 

11. Vejo muitos alunos saírem da graduação com muita insegurança. Quais medidas podem ser tomadas para amenizar esses problemas? 

12. Se as técnicas utilizadas (em aprendizado de máquina) são as que já conhecemos, por que outros profissionais dominaram essa área? É um problema de não sabermos vender nosso trabalho? 

13. O diploma de graduação em estatística e atuária se faz realmente necessário para a prática das profissões? Vocês acreditam que a busca por conhecimento de maneiras alternativas e a vivência prática no ramo de atuação podem substituir o requisito acadêmico? Quão importante é o currículo acadêmico em comparação com o portifólio de projetos já feitos? 

14. O mercado de trabalho para Ciências Atuariais valoriza (leia-se, provê maiores remunerações) a profissionais que tenham Mestrado stricto sensu ou Doutorado em Matemática, Estatística, Finanças ou áreas correlatas -- ou prioriza e reconhece mais profissionais que possuam MBA, encarando o Mestrado e Doutorado como uma formação exclusiva para viés acadêmico? 

15. A disponibilidade de dados, atualmente, é muito maior que há 20 ou 30 anos. Também, a capacidade de processamento dos computadores aumentou significativamente. Ainda, os softwares utilizados para análise de dados estão cada vez mais difundidos, populares e acessíveis, com uma ampla gama de bibliotecas, pacotes, módulos etc prontos e disponíveis em prateleiras. Os Senhores encaram esse cenário como um potencial risco para o Estatístico, o qual poderá ser suplantado por Engenheiros, Físicos, Economistas etc que possuam um pouco de aptidão com tais ferramentas computacionais? 

16. Comparando o currículo de duas graduações em Ciências Atuariais (UFRJ x UFRGS), nota-se uma imensa diferença no enfoque das formações. A UFRJ preza por uma formação essencialmente matemática, havendo uma disciplina isolada para Direito, uma para Economia, outra para Administração e outra para Contabilidade, totalizando 16 créditos obrigatórios. Já a UFRGS possui uma quantidade bastante inferior de disciplinas de Matemática e Estatística, oferecendo, em contrapartida, 64 créditos obrigatórios dentre disciplinas associadas à Economia, Contabilidade e Direito. Gostaria que os presentes discutissem as diferentes oportunidades que se abrem para tais profissionais no mercado de trabalho, considerando a distinta formação acadêmica, bem como os desafios (ou dificuldades) para os egressos dessas faculdades em função das lacunas de um e outro. 

17. Contabilizando os trabalhos apresentados na SIAC da UFRJ, em 2017 e 2018, não houve nenhum trabalho apresentado na área de Atuária; para Estatística, foram 2 e 5 trabalhos em 2017 e 2018, respectivamente, na Sessão de Estatística. Em contrapartida, nota-se que a palavra-chave "Estatística", ao navegar no caderno de resumos da SIAC, permeia dezenas de trabalhos nas Engenharias, cursos da Saúde, Física, Química, Geotecnologias, Economia etc, dando indícios de um aparente "distanciamento" entre os alunos de Atuária e Estatística contra as demais formações e também de que os profissionais dessas áreas, cada vez mais, utilizam-se de ferramental que seria expertise do Estatístico e Atuário. Como os Senhores avaliam esse cenário? De que forma o IM pode firmar sua posição e aumentar sua integração com os demais institutos da UFRJ? 

18. Nos cursos de Engenharia e Computação, é usual haver incentivo e formação complementar direcionada ao empreendedorismo, incubação de empresas, empresa júnior etc, com uma relação entre academia e mercado de trabalho. Para Ciências Atuariais, aparentemente o aluno encontra-se em uma "ilha de conhecimento acadêmico", sendo que tal inserção dá-se praticamente por iniciativas individuais, quando um aluno busca um estágio. De que forma esse hiato (se é que ele mesmo existe) pode ser superado, no curso de Ciências Atuariais?

19. Na última SESTAT, houve algumas apresentações sobre um novo perfil de profissional: Data Scientist. Esse profissional seria composto pela interseção de 3 "conjuntos" de profissionais: um Matemático/Estatístico, um "Algorítmico-Lógico"/Programador e um profissional que entende de Negócios/Administração. Muito se falou da imensa dificuldade em se encontrar profissionais com tal perfil. Em paralelo, sabe-se que muitos profissionais advindos de outras formações (Engenheiros, Físicos, Economistas, Cientistas da Computação etc) têm ocupado tais posições. Que formação adicional um estudante de Estatística e Atuária precisa buscar para ocupar tais posições? 

20. As empresas do setor elétrico, petroquímico, mineração, papel e celulose e de telecomunicações geralmente possuem convênios e projetos com cursos de Engenharia, possibilitando que alunos de graduação e pós-graduação dessas áreas desenvolvam-se e atuem em estudos fortemente aplicados ao mercado enquanto ainda estão na universidade. Exemplos notáveis são: Petrobras, Vale, Braskem, Votorantim, Odebrecht, Klabin etc. Tal fato também funciona como um excelente "cartão de visitas" para o estudante. No entanto, esse fenômeno aparentemente não é observado entre as Seguradoras, Resseguradoras, Fundos de Pensão, Bancos, Corretoras de Valores etc com as graduações em Ciências Atuariais e em Estatística. Que iniciativas poderiam ser realizadas nesse sentido para criação (ou fortalecimento) dessa relação? 

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