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A 7a Semana de Estatística e Atuária da UFRJ foi o tema de nossa postagem da semana passada. Ela foi encerrada com um debate com profissionais do mercado e professores dos cursos de graduação em Estatística e Atuária, ilustrado na foto acima. A organização compilou algumas das perguntas que foram formuladas pelos alunos para esse debate. Acho que oferecem um rico panorama das dúvidas e visões que os alunos tem sobre os cursos de Estatística e Atuária no pais. Nas próximas semanas tentarei respondê-las na medida do possível. Abaixo eu as transcrevo, na ordem que eu as recebi, para que todos os leitores possam ter um referencial de reflexão do onde os alunos percebem que a área está, para onde eles entendem que ela pode ir e que caminhos ela deve percorrer até chegar lá. Ei-las:
1. Uma preocupação: terminar o doutorado, sem experiência de mercado e já na casa dos 30.
Será que o mercado será um pouco resistente a esse profissional?
2. Atualmente, tem-se passado a sensação de que estamos vivendo um “boom” de métodos de
previsão e modelagem (ou apenas algoritmos). Entretanto, muito se lê sobre técnicas que
não passaram por demonstrações matemáticas de sua funcionalidade. Entretanto, elas
cumprem seu papel e respondem as perguntas que são feitas. A dúvida é, até onde vai a
necessidade do formalismo em relação ao uso dos métodos?
3. Uma das corridas atuais em relação à computação é para a eficiência computacional do que
está sendo feito. Tenta-se fazer as coisas de forma rápida e automática. Na inferência
bayesiana, em muitos cenários nos deparamos com modelos que ficam até dias rodando.
Devemos começar a pensar em aproximação, para chegarmos em resultados mais rápidos?
4. Vejo diariamente ofertas de emprego para cientista de dados. Em todos os cantos lemos que
é uma profissão expoente e que existem muito mais vagas que profissionais. Entretanto,
paralelo a isso, vejo muitos profissionais de áreas correlatas, desempregados. Na medida do
possível, o que pode ser feito para melhorar essa relação? A sensação que fica é de que as
empresas querem um profissional e no mercado existe outro. Claro, uma saída óbvia, é o
empenho do profissional para a adequação, mas as empresas também não deveriam estar
mais dispostas a acreditar no potencial de evolução do profissional dentro da empresa?
5. Estatístico pode ser considerado cientista de dados? Por que?
6. Por que quem não é formado em estatística pode dar aula de estatística em faculdades
particulares?
7. Os professores já estão aptos a ensinar os alunos as disciplinas de "ciências de dados"?
8. Enquanto o curso de estatística forma 2 alunos, a computação (de forma generalizada)
forma 200 a 300. Seremos engolidos? Como evitar isso?
9. Será que a solução está na reformulação dos cursos de estatística ou na melhora da
comunicação entre academia e mercado?
10. Quando entramos na graduação, fazemos um curso de análise exploratória de dados e já
aprendemos, mesmo sem muita base, como manipular um banco de dados. É válido ter uma
matéria de último período de análise exploratória de dados, agora com a formação em rumo
de ser concluída?
11. Vejo muitos alunos saírem da graduação com muita insegurança. Quais medidas podem ser
tomadas para amenizar esses problemas?
12. Se as técnicas utilizadas (em aprendizado de máquina) são as que já conhecemos, por que
outros profissionais dominaram essa área? É um problema de não sabermos vender nosso
trabalho?
13. O diploma de graduação em estatística e atuária se faz realmente necessário para a prática
das profissões? Vocês acreditam que a busca por conhecimento de maneiras alternativas e a
vivência prática no ramo de atuação podem substituir o requisito acadêmico? Quão
importante é o currículo acadêmico em comparação com o portifólio de projetos já feitos?
14. O mercado de trabalho para Ciências Atuariais valoriza (leia-se, provê maiores
remunerações) a profissionais que tenham Mestrado stricto sensu ou Doutorado em
Matemática, Estatística, Finanças ou áreas correlatas -- ou prioriza e reconhece mais
profissionais que possuam MBA, encarando o Mestrado e Doutorado como uma formação
exclusiva para viés acadêmico?
15. A disponibilidade de dados, atualmente, é muito maior que há 20 ou 30 anos. Também, a
capacidade de processamento dos computadores aumentou significativamente. Ainda, os
softwares utilizados para análise de dados estão cada vez mais difundidos, populares e
acessíveis, com uma ampla gama de bibliotecas, pacotes, módulos etc prontos e disponíveis
em prateleiras. Os Senhores encaram esse cenário como um potencial risco para o
Estatístico, o qual poderá ser suplantado por Engenheiros, Físicos, Economistas etc que
possuam um pouco de aptidão com tais ferramentas computacionais?
16. Comparando o currículo de duas graduações em Ciências Atuariais (UFRJ x UFRGS), nota-se
uma imensa diferença no enfoque das formações. A UFRJ preza por uma formação
essencialmente matemática, havendo uma disciplina isolada para Direito, uma para
Economia, outra para Administração e outra para Contabilidade, totalizando 16 créditos
obrigatórios. Já a UFRGS possui uma quantidade bastante inferior de disciplinas de
Matemática e Estatística, oferecendo, em contrapartida, 64 créditos obrigatórios dentre
disciplinas associadas à Economia, Contabilidade e Direito. Gostaria que os presentes
discutissem as diferentes oportunidades que se abrem para tais profissionais no mercado de
trabalho, considerando a distinta formação acadêmica, bem como os desafios (ou
dificuldades) para os egressos dessas faculdades em função das lacunas de um e outro.
17. Contabilizando os trabalhos apresentados na SIAC da UFRJ, em 2017 e 2018, não houve
nenhum trabalho apresentado na área de Atuária; para Estatística, foram 2 e 5 trabalhos em
2017 e 2018, respectivamente, na Sessão de Estatística. Em contrapartida, nota-se que a
palavra-chave "Estatística", ao navegar no caderno de resumos da SIAC, permeia dezenas de
trabalhos nas Engenharias, cursos da Saúde, Física, Química, Geotecnologias, Economia etc,
dando indícios de um aparente "distanciamento" entre os alunos de Atuária e Estatística
contra as demais formações e também de que os profissionais dessas áreas, cada vez mais,
utilizam-se de ferramental que seria expertise do Estatístico e Atuário. Como os Senhores
avaliam esse cenário? De que forma o IM pode firmar sua posição e aumentar sua
integração com os demais institutos da UFRJ?
18. Nos cursos de Engenharia e Computação, é usual haver incentivo e formação complementar
direcionada ao empreendedorismo, incubação de empresas, empresa júnior etc, com uma
relação entre academia e mercado de trabalho. Para Ciências Atuariais, aparentemente o
aluno encontra-se em uma "ilha de conhecimento acadêmico", sendo que tal inserção dá-se
praticamente por iniciativas individuais, quando um aluno busca um estágio. De que forma
esse hiato (se é que ele mesmo existe) pode ser superado, no curso de Ciências Atuariais?
19. Na última SESTAT, houve algumas apresentações sobre um novo perfil de profissional: Data
Scientist. Esse profissional seria composto pela interseção de 3 "conjuntos" de profissionais:
um Matemático/Estatístico, um "Algorítmico-Lógico"/Programador e um profissional que
entende de Negócios/Administração. Muito se falou da imensa dificuldade em se encontrar
profissionais com tal perfil. Em paralelo, sabe-se que muitos profissionais advindos de outras
formações (Engenheiros, Físicos, Economistas, Cientistas da Computação etc) têm ocupado
tais posições. Que formação adicional um estudante de Estatística e Atuária precisa buscar
para ocupar tais posições?
20. As empresas do setor elétrico, petroquímico, mineração, papel e celulose e de
telecomunicações geralmente possuem convênios e projetos com cursos de Engenharia,
possibilitando que alunos de graduação e pós-graduação dessas áreas desenvolvam-se e
atuem em estudos fortemente aplicados ao mercado enquanto ainda estão na universidade.
Exemplos notáveis são: Petrobras, Vale, Braskem, Votorantim, Odebrecht, Klabin etc. Tal
fato também funciona como um excelente "cartão de visitas" para o estudante. No entanto,
esse fenômeno aparentemente não é observado entre as Seguradoras, Resseguradoras,
Fundos de Pensão, Bancos, Corretoras de Valores etc com as graduações em Ciências
Atuariais e em Estatística. Que iniciativas poderiam ser realizadas nesse sentido para criação
(ou fortalecimento) dessa relação?
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