terça-feira, 27 de novembro de 2018

1a Conferência de Estatística e Ciência dos Dados

http://www.csds.ime.ufba.br/

Aconteceu há 2 semanas atrás a 1a Conferência de Estatística e Ciência dos Dados, organizada em Salvador pela Universidade Federal da Bahia. A conferência procurou congregar profissionais e pesquisadores da diferentes áreas que abrigam o guarda chuva de Ciência de Dados, especialmente Estatística, Computação e Matemática. O evento contou com um pouco menos de uma centena de participantes de várias partes do país e também do exterior, notadamente de países vizinhos da América Latina.

Vários trabalhos foram apresentados e houve uma razoável e saudável interação e troca de idéias entre profissionais das áreas listadas acima. O evento teve conferências, várias mesas redondas e minicursos em temas ligados à Ciência de Dados. Vários trabalhos também foram apresentados, com destaque para apresentações de iniciativas de utilização de grandes massas de dados na resolução de problemas concretos reais. Uma iniciativa que chamou minha atenção foi o laboratório montado na Universidade Federal de Viçosa para tratamento de grandes bancos de dados para oferecimento de soluções a diversas instituições. Esse laboratório tem vários trabalhos em andamento, em colaboração com instituições públicas, como ilustrado aqui. A propósito, me pareceu interessante o prefeito de um município mineiro ter participado do evento com apresentação de trabalho, resultante dessa colaboração. Veja no programa do evento a sessão convidada sobre Data Science for Smart Cities (Ciência dos Dados para Cidades Inteligentes). 

Apesar do evento ter durado 3 dias, minha participação ficou confinada, por restrições na minha agenda, ao último dia de atividades. Fui convidado para apresentar a conferência de encerramento e participar de uma mesa redonda sobre Ciência de Dados no Brasil. Minha participação na mesa redonda se restringiu a apresentar um pouco da minha visão sobre a situação da área no Brasil. Assim, falei um pouco sobre minha preocupação com a inexistência de trabalhos de pesquisa aqui no Brasil. Já falei aqui do que tenho visto de inovações na área em eventos fora do país e que não vejo reproduzido aqui. O que mais tenho visto por aqui são aplicações de técnicas já conhecidas para solução de problemas. Isso não está ruim pois demonstra que os usuários de Estatística e de análise de dados estão sintonizados para os avanços realizados no mundo. Mas é pouco para o output que se espera de universidades brasileiras.

Outro ponto que também defendi foi a criação de mais cursos voltados especificamente para Ciência de Dados. Atualmente já existem algumas especializações no pais com esse fim a nível de pós-graduação. No entanto, só tenho conhecimento de um único curso de graduação nesse tema. E mesmo esse curso, forma tecnólogos em uma graduação de apenas 3 anos. Acredito que existe um interesse muito grande pela área por parte dos alunos terminando o ensino médio e esse interesse tem sido frustrado e/ou atendido de forma incompleta por algumas graduações (notadamente de Estatística e Computação) com ênfases na área.

Acho que graduações formais explicitando essa área de formação poderiam atrais alunos com esse interesse. Essas graduações podem ser estruturadas com relativa facilidade se houver uma concertação de interesses entre os Departamentos de Estatística, de Computação e de Matemática existente em diferentes universidades do país. Várias dessas universidades tem atividades de pesquisa nessas áreas. Essas investigações poderiam dar o suporte científico (para além do suporte tecnológico) necessário a um curso formador de profissionais plenamente capacitados em Ciência de Dados. Isso significa formar profissionais que entendam como os importantes avanços dessas áreas podem ser concatenados para fornecer uma visão abrangente das análises de grandes massas de dados. E, principalmente, dar a esses alunos a base para que entendam e sejam capazes de analisar criticamente os vários avanços que vem regulamente sendo propostos na área.

Alguns entendem que o caminho que descrevi no parágrafo anterior apontam para o fim da Estatística.  Outros entendem que o que descrevi poderia ser atendido com poucas mudanças na grade curricular da formação de um estatístico. Acho que deve-se ser capaz de propor soluções cada vez mais requeridas pelo mercado de trabalho. A descrição que fiz no parágrafo anterior é relativamente próxima da formação de um estatística e até de outras áreas de Computação e Matemática. Isso deveria ser um fator facilitador e não complicador. Por exemplo, muitas universidades já tem implementadas formações duplas, onde com um pouco de atividades didáticas adicionais, os alunos podem sair da universidade com 2 diplomas. Assim, o aluno de graduação de uma das áreas já existentes (Estatística, por exemplo) poderia sair com dupla formação em Ciência de Dados e sua área atual. Quem seguir esse caminho, fatalmente sairá na frente e certamente poderá atrair alunos interessados e de bom nível. 

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