terça-feira, 30 de julho de 2019

Minimíssil aleatório

Fonte: SporTV

Uma característica marcante da cultura brasileira é sua criatividade, abastecida pela espontaneidade do nosso povo. Ela desponta de diferentes formas e o esporte, por despertar maiores emoções e envolver toda a gama de estratos socioeconômicos, é um terreno fértil para manifestações do gênero. O futebol em particular produz algumas das mais marcantes, pelo seu alto alcance dentro da sociedade brasileira. É bem verdade que a globalização vem produzindo uma diminuição desses tipos de acontecimento mas vez por outra eles seguem ocorrendo. Alguns exemplos podem ser vistos aqui.

São famosas as frases de jogadores de futebol como Dario, carinhosamente conhecido como Dadá Maravilha pelos seus admiradores: "Não existe gol feio; feio é não fazer gol" ou "Não venha com a problemática que eu dou a solucionática" são alguns exemplos, ou de dirigentes como o lendário presidente do  Corinthians Vicente Matheus: "Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão", "Minha gestação foi a melhor que o Corinthians já teve" ou "Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão".

A globalização e a competitividade a nível internacional vem aplacando e domesticando essa fonte, apesar da origem predominantemente humilde da maioria de nossos atletas e futebolistas. Mas alguns poucos remanescentes dessa veia literária teimam em permanecer produtivos entre nós. Um dos melhores exemplos da atualidade é o jogador Marinho, atualmente jogando pelo Santos. O anúncio de sua contratação pelo Santos em seu twitter explorou essa faceta do jogador. Marinho é tão habilidoso em seu ofício quanto em seu domínio da língua portuguesa.

No caso específico do Marinho, tão chamativo quanto o efeito de suas frases é a inocência que as motiva. Nas férias deste último verão, ele deixou que fosse gravada em video uma brincadeira em que ele pedia para ser contratado pelo Flamengo, embora ainda tivesse contrato em vigência com o Grêmio. Isso lhe causou aborrecimentos, especialmente junto a torcedores do clube que defendia na época. Outras vezes, ele reconheceu não saber questões óbvias a respeito do esporte que pratica.

Mas o que isso tudo tem a ver com o StatPop e a Estatística? No fim de semana retrasada, Marinho estava no banco de reservas em um jogo e entrou em campo no meio do 2o tempo. Com poucos minutos em campo, ele marcou um belo gol com um potente chute de fora da área. Esse gol acabou determinando a vitória do seu time, colocando-o com a pontuação de líder da competição. Perguntado após o jogo sobre o bonito gol, ele não teve dúvidas e sacramentou logo no início da entrevista:  "Oxi, aí foi um minimíssil aleatório. Esse é diferente, né?", deixando claras suas simpatia, singeleza e bahianidade. (A foto acima é do momento em que o jogador desferia sua emblemática frase.)

Essa entrevista povoou o noticiário esportivo da semana passada e ficou tão reconhecida quanto o importante gol que garantiu a vitória de seu time. A presença de uma palavra tão cara à Estatística em um contexto onde a Estatística apenas começa a aparecer merece nosso destaque. Não dá para dizer o que uma personagem tão folclórica queria dizer com sua expressão mas talvez ele quisesse apenas registrar a efemeridade do feito alcançado. Afinal, esse particular chute conteve vários aspectos que poucas vezes são encontrados, tais como a surpresa do momento de seu arremate, a força empregada no mesmo e o destino junto a uma das traves. Tudo isso dificultou muito a defesa do goleiro e impediu a intervenção dos adversários na sua tentativa de bloqueá-lo. Mas foi a improvável conjunção de todos esses fatores que deve ter levado Marinho a atribuir a adjetivação aleatório ao seu feito.
   
E a expressão de Marinho parece ter adquirido sobre-vida. ele ontem foi filmado andando em uma motocicleta elétrica. Ele estava nos arredores do centro de treinamento e trajava o uniforme de treino da equipe. O evento em si não tem a menor relevância e só virou notícia devido ao seu personagem. Ele ganhou relevância após o gol e o nome a ele dado pelo seu autor. A maior prova disso foi o nome escolhido como título da reportagem: rolê aleatório!

Num momento em que a Estatística ainda é tão pouco compreendida ou mesmo conhecida pela sociedade em geral, Marinho presta sua contribuição para uma mudança nesse quadro, com o bom humor que o caracteriza. A Estatística agradece e deveria dizer algo do tipo: Obrigado, Marinho! e siga desferindo mais desses seus mísseis que tão bem fazem ao esporte e cultura nacionais. 

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