terça-feira, 31 de março de 2020

As estatísticas da Estatística no CNPq - parte III (epílogo?)


Foi divulgado no início deste mês o resultado final da alocação pelo CNPq das bolsas de pesquisa, após julgamento dos recursos impetrados. Vale relembrar da postagem anterior no assunto que:
  1. as percentagens de manutenção de bolsas dentro de cada área ficaram em torno de 80% para várias áreas afins à Estatistica;
  2. 2 a percentagem de manutenção de bolsas de Estatística tinha ficado em 10% com apenas 1 bolsa concedida de um total de 10 bolsas que a área possuía e que venceriam em fevereiro deste ano;
  3. não tivemos informação do total de pedidos que foram feitos por pesquisadores que não possuíam bolsa;
Ainda sobre o item 3 acima, temos conhecimento de ao menos um pesquisador que não possuía bolsa e não teve seu pedido de bolsa aprovado. Vale informar que se trata de pesquisador produtivo com contribuições relevantes em periódicos de alto nível. Ele estava fora do sistema CNPq por ter perdido o prazo de renovação de sua bolsa, que ele mantinha já há muitos anos e já estava no nível 1 pelo reconhecimento de qualidade de sua produção.

Todos os que não tiveram seu pedido aprovado que eu conheço entraram com recurso da decisão. O resultado que saiu agora foi incorporando a decisão quanto aos recursos impetrados. No caso da Estatística, 4 dos pesquisadores que entraram com recurso tiveram seu pedido aprovado e voltaram a ser incorporados ao sistema. Com isso, a taxa de manutenção de bolsas da Estatística subiu de 10% para 50%. Esse percentual indubitavelmente melhorou. Mas continuou muito abaixo dos percentuais das outras áreas.

Conseguimos apurar que
  1.  embora a área de Probabilidade e Estatística possua 2 membros do Comitê assessor do CNPq para a área (CA-MA), a reunião que decidiu sobre essas bolsas, fazendo as recomendações de aprovação/rejeição de todos os pedidos da área, não contou com a presença de nenhum deles;
  2. houve o estabelecimento de um novo critério para avaliar a produção científica dos pesquisadores solicitantes.  

Não há nada de errado com mudanças de critério mas é recomendável que se tome certos cuidados ao implementá-las. Por exemplo, o critério deveria emergir de uma decisão antecipadamente tomada, após ter sido sedimentada com algumas rodadas de discussão pelo menos entre todos os membros do comitê. Além disso, o critério adotado se baseou em preceitos mais caros aos matemáticos em termos de avaliação dos periódicos científicos onde a produção foi veiculada. 

Com isso, periódicos de elite da Estatística ficaram com avaliação abaixo da avaliação dos periódicos de elite da Matemática. Como efeito cascata dessa sistemática, todos os periódicos da Estatística sofreram uma desvalorização da sua importância relativamente aos periódicos de nível similar da Matemática. Tudo isso, torna compreensível e até provável que o resultado tivesse sido o que efetivamente foi obtido. Na realidade, trata-se de um corolário natural das decisões tomadas e de sua implementação. 

Também não ficou claro se o mesmo critério usado na análise dos recursos impetrados pelos pesquisadores da Estatística. Alguns acharam que a prevaleceu a quantidade de artigos publicados sobre a qualidade deles na escolha dos agraciados nos recursos impetrados. Torço para estar errado e ser desmentido na minha avaliação. Ela foi mais baseada em pedaços de informação coletadas no seio da comunidade do que por um esclarecimento oficial feito pelo CNPq.

De todo modo, é inegável que uma a reparação parcial feita no resultado final, após avaliação dos recursos. Mas mesmo assim, ficou uma preocupação bastante palpável na comunidade de Estatística quanto ao seu futuro com base no critério usado ou mesmo em outro que porventura possa surgir depois das reclamações vindas da comunidade estatística. Tanto quanto sabemos, não houve participação na comunidade na proposição deste critério nem em possíveis alterações no mesmo. Tanto quanto percebo, a comunidade não quer benefícios mas quer ser tratada de forma equânime com o tratamento dispensado às outras áreas. 

O resultado final, incluindo os recursos deferidos, pode ser visto aqui.

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