terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Os números por trás da vacinação infantil contra a COVID19

 

Fonte: Andrew Medichini/AP

A postagem desta semana volta ao tema da vacinação contra a COVID19. Até o momento, o Brasil adquiriu uma taxa de cobertura vacinal igual ou até mesmo superior à de alguns paises desenvolvidos. Isso só foi possivel graças à enorme capilaridade do sistema de vacinação implantado no país. Entretanto, essa taxa ainda se mostrou insuficiente para atingir a chamada imunidade de rebanho e conter o avanço da pandemia, especialmente com o surgimento de novas variantes como a Ômicron. 

Países ao redor do mundo se depararam com essa situação e tomaram o aumento da cobertura para outras parcelas da população como estratégia de mitigação dos efeitos adversos. Paralelamente, começaram a haver experimentos científicos ao redor do mundo para verificar a viabilidade da utilização da imunização para crianças entre 5 e 11 anos. Esses estudos mostraram que a estratégia era benéfica e iniciaram suas campanhas de vacinação em massa para crianças nessa faixa etária. O renomado Center for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos foi bastante enfático ao recomendar sem hesitação que todos indivíduos acima de 5 anos sejam vacinados. A foto acima foi tomada na campanha realizada na Itália.

Obviamente, todos os cuidados foram tomados especialmente no que diz respeito aos possíveis aspectos adversos da vacina, os chamados efeitos colaterais. Foi detectado que a vacina da Pfizer se servia bem a esses propósitos (com dosagem inferior à adotada para adultos). No caso específico de miocardite, um dos principais efeitos colaterais da vacina, foi verificado que entre os mais de 7 milhões de vacinas aplicadas a crianças, apenas 8 relataram a presença de miocardite, todas com sintomas moderados e nenhuma delas indo a óbito. Essa conta leva a uma taxa de cerca de 1 caso (não letal) a cada 1 milhão de crianças. 

Esse número pode ser comparado com a mortalidade de crianças com 5 a 11 anos aqui no Brasil. De acordo com nota técnica do CONASS (Conselho Nacional de Secretarias de Saude), já houve 301 mortes por COVID19 para essa faixa etária. O número parece baixo e até vem sendo usado para justificar a não adoção da imunização para essa faixa etária. Obviamente, esse número é enorme para as 301 famílias enlutadas.

Entretanto, temos cerca de 20,5 milhões de brasileiros nessa faixa etária. Ao fazer as contas, verificamos que a taxa de mortalidade é de 14,6 mortes para cada 1 milhão de crianças. Essa taxa é muito superior à taxa de ocorrência dos efeitos colaterais mais preocupantes com a vacina

Assim a escolha é adotar uma medida que tem risco de adoecimento (e não morte!) de 1 a cada 1 milhão ou manter o estado atual de 14,6 mortes a cada 1 milhão? A resposta me parece óbvia.

Então, porque está havendo reação adversa ao uso imediato da vacina no Brasil para crianças entre 5-11 anos? Não sei explicitar os motivos mas o que vejo em alguns sites é um uso deliberado de informação de maneira parcial, a ponto de negar o que o próprio detentor da informação preconiza (ao ponto de dizerem que essa vacina não é uma vacina). Além disso, os que se posicionam contra a adoção da vacina entendem que seria preciso esperar vários anos para que pudesse ser estabelecida a relevância da adoção dessa vacina.

O próprio caso da vacinação mundial de adultos é a maior evidência contra esse argumento. A drástica redução nos casos e, principalmente, nas mortes experimentadas ao redor do mundo após a introdução da imunização deveriam ser prova mais do que eloquente do acerto dessas medidas. Num entendimento mais geral, a Ciência não se baseia em achados eventuais. Ela define critérios claros necessários para certificação de uma prática em qualquer que seja a área do saber. No caso específico da Medicina, a humanidade já acumulou séculos de experiência para lidar com as avaliações de risco inerentes a qualquer prática de intervenção em seres humanos. Já existe um robusto arsenal de ferramentas que indicam os melhores caminhos a serem adotados. [Os poucos números que apresentei acima são apenas um exemplo, para o caso de COVID19 em crianças.]

É claro que se quisessemos poderiamos colocar uma lupa apenas nos aspectos negativos de uma medida que não nos agrade e ignorar os aspectos positivos. Essa é uma opção de vida. No meu caso, prefiro acreditar na Ciência e na sua capacidade de acumular coerentemente conhecimento. Só isso irá permitir uma ponderada avaliação dos riscos associados a cada medida e de adotar sempre aquela de menor risco. É isso que o CDC dos Estados Unidos, a ANVISA do Brasil e outros órgãos reguladores da saude em todo o mundo vem fazendo.


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