terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A desigualdade socio-economica e os números da COVID19

Fonte: https://ourworldindata.org/covid-vaccinations

Uma reportagem recente do sistema Globo deve ter atraido a atenção de muitos: o assunto era o enorme fosso de desigualdade entre países ricos e pobres no que diz respeito à vacinação da Covid19. Essa tendência vem se preservando com o passar do tempo. Passados 2 meses dessa reportagem, os dados não deixam duvidas: embora a taxa mundial de pessoas que receberam ao menos 1 dose da vacina seja de 61,4%, a mesma taxa para habitantes de países mais pobres é de apenas 10%. 

A tabela acima, extraida do site Our World in Data, elucida alguns detalhes dessa comparação. Antes de consulta-la, não custa lembrar que, se a média global está em torno de 60% e a dos países pobres está em 10%, então a taxa de alguma vacinação em países ricos está próxima dos 80%. Esse número é 8 vezes maior!  

Voltando à tabela, vemos que existem flutuações expressivas dentro dos 2 grupos de países. Um dos exemplos mais notórios é a Russia que, por estar na Europa, deve ter sido classificada como país rico. Entretanto, sua taxa de vacinação de apenas 48% com apenas a 1a dose está muito abaixo da taxa média dos ricos.

Outro exemplo de destaque é especialmente benvinda para nós. O Brasil possui no momento taxa de alguma vacina em torno de 80% e de vacinação completa em torno de 70%. Essas taxas ficam abaixo do vizinho Chile,  com valores respectivos de 92% e 88%. No entanto, são comparáveis com taxas de tradicionais países desenvolvidos, como Japão, França, Reino Unido e Itália.

A comparação entre continentes também revela dados interessantes. Apesar do subdesenvolvimento reinante em boa parte da America do Sul, nosso continente apresenta expressivos valores para ambas as taxas: 79% e 68%, apenas um pouco abaixo das taxas brasileiras. Esses valores estão muito próximos, embora um pouco acima, de continentes como Europa (67% e 64%), América do Norte (70% e 61%) e Ásia (71% e 62%). Ou seja, a maioria dos continentes parece estar flutuando em torno dos mesmos valores. 

O lado triste e preocupante da história é claramente o continente africano. Lá, a taxa média de vacinação com um única dose é de apenas 16% e a vacinação completa é privilégio de apenas 11% da população. Um importante e populoso país africano exemplifica o abismo nesse continente. A Nigéria tem taxas assustadoramente baixas (7% e 3%). 

Essas baixas taxas são um excelente fomentador para a proliferação do virus e para o aparecimento de novas variantes. Essas últimas prolongam ainda mais a expansão e a perpetuação da pandemia no planeta. O virus está sempre em busca de novos indivíduos vulneráveis para causar sérios danos ou mesmo para indivíduos vacinados onde a maior chance é de causar no máximo pequenos danos. Enquanto as taxas de vacinação africanas não sofrerem aumentos substanciais, a migração de pessoas (e consequentemente do virus) impedirá a completa erradicação dessa doença no mundo. E nenhum país estará imune, a menos que tome medidas extremamente austeras e de difícil implementação. O problema da África hoje é de fato problema de toda a humanidade. Todos os esforços devem ser envidados para resolvê-lo, para o bem de toda a humanidade. 


2 comentários:

  1. Recebi um comentário interessante do Pedro mas inadvertidamente o exclui. Vou reproduzi-lo aqui abaixo:

    O descaso com países menos desenvolvidos certamente compromete quaisquer esforços de conter a pandemia em escala global. Isso me parece muito preocupante também por outro motivo: justamente esses países são os que obviamente não têm fácil acesso às tecnologias de sequenciamento genético, o que dificulta muito o monitoramento de novas variantes.

    Essas discussões me levam a questionar se realmente deveríamos estar vacinando crianças de 5 anos quando temos menos de 10% dos adultos vacinados em alguns outros países, mas é claro que não é como se fosse necessário escolher entre um e outro. Além disso, o problema envolve muito mais que a quantidade de doses, como questões logísticas, por exemplo.

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  2. Não tenho idéia de como resolver o problema africano por conta dos seus diferentes aspectos, como você bem ressaltou. Mas não acredito que um único país, por mais rico que fosse, teria condições de resolve-lo ou mesmo atenua-lo de forma significativa.

    A solução desse problema de dimensão global exigirá uma intervenção global. Organismos internacionais como a OMS já deveriam estar avançados no planejamento e implementação dessa solução. Mas não tenho conhecimento de nenhuma iniciativa em andamento. Espero estar enganado...

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