terça-feira, 2 de abril de 2019

XVI Escola de Modelos de Regressão


Ocorreu na semana passada na histórica cidade de Pirenópolis, GO, a 16a edição da Escola de Modelos de Regressão (EMR). O evento foi todo realizado em um resort a cerca de 1km do centro histórico dessa pitoresca cidade, onde boa parte dos cerca de 200 participantes se hospedou. O evento teve a estrutura usual de eventos científicos com conferências, sessões temáticas, comunicações orais e em poster.

Esta edição da EMR foi dedicada ao estatístico dinamarquês Bent Jorgensen, falecido em 2015 com pouco mais de 60 anos. Bent passou boa parte de sua vida adulta lidando com problemas de saude e acabou vencido pelo cancer. Bent foi um pesquisador reconhecido internacionalmente, especialmente pelo seu trabalho com modelos exponencias de dispersão, onde propôs uma variação dos modelos lineares generalizados. Bent foi casado por mais de 3 décadas com a brasileira Vera Botelho. Possivelmente por conta dela, acabou vindo trabalhar no Brasil por cerca de 5 anos após o término de seu doutorado. Nesse período, ele ajudou bastante na organização da 2a edição da EMR, organizada pela UFRJ em 1991, orientou vários alunos de pós-graduação e escreveu a 1a versão de um de seus livros sobre regressão, posteriormente publicado pela Chapman & Hall. Eu particularmente apreciei muito da abordagem geométrica desse livro e o utilizei algumas vezes como livro-texto. 

Bent sempre procurar aproximação científica e por conta disso, acabei ministrando um curso na pós-graduação no IMPA, a convite dele. Encontrei Bent algumas vezes ao longo de nossas carreiras em congressos pelo mundo. Ele, sempre compenetrado, demonstrando sempre um interesse em discutir os avanços científicos na área. Assim, acho que o evento fez uma bonita e merecida homenagem ao Bent na abertura, com palestras e relatos sobre sua obra e contando também com a participação de sua esposa e de uma de suas filhas. 

Essa homenagem foi sem dúvida o ponto alto do evento, secundada pela animada festa de encerramento com intensa participação dos congressistas e com entrega de prêmios aos melhores trabalhos apresentados em posters. Acho uma ótima idéia como motivação. (Por acaso, sentei na mesa de um premiado e a surpresa e alegria dele ao ser anunciado como contemplado foi contagiante.) Tamanha intensidade foi menos vista durante o transcorrer do evento. Acredito que contribuíram para isso as baixas participações de profissionais mais experientes tanto do cenário nacional quanto do cenário internacional. 

Faz algum tempo que não tenho participado de eventos nacionais de Estatística, com exceção dos Encontros Brasileiros de Estatística Bayesiana, cujos relatos tenho postado aqui. (Veja relatos dos 2 últimos EBEBs aqui e aqui.) O padrão dos EBEBs é de cerca de uma dezena de pesquisadores de renome do exterior, sendo boa parte deles do 1o escalão da ciência internacional. Essa presença qualificada aumenta a densidade científica do evento e reforça as discussões sobre as novidades apresentadas, ajudando os participantes a melhor contextualiza-las.

Essa afluência internacional aos EBEBs é parcialmente garantida financeiramente pelos próprios convidados. Isso tem sido possível pela compreensão por parte dos convidados do valor que as outras presenças agregam ao evento, tornando-lhes atraente a sua vinda do ponto de vista científico, e também pela intensa interação que boa parte da comunidade nacional tem com a comunidade internacional. Em um cenário de crescente escassez de recursos, esse é uma estratégia a ser considerada.


Nesta edição da EMR, o único convidado que consigo identificar na categoria de excelência internacional foi o professor Anthony Davison. Anthony é um antigo conhecido de décadas pois obtivemos nossos doutorados na mesma época (final da década de 80) e no mesmo país (Inglaterra). Ele construiu uma carreira brilhante iniciada em Oxford e depois desenvolvida na Suiça. Ele é um dos mais influentes pesquisadores do mundo em Teoria dos Valores Extremos (TVE) e também tem um livro famoso sobre bootstrap. Por conta de sua proeminência científica, ele foi Editor-Chefe por 10 anos do periódico de elite Biometrika


Da esquerda para a direita, eu, Glaura Franco, Anthony Davison e Francisco Louzada (fonte: Francisco Louzada)


Aproveitei a visita dele para discutir com ele tópicos de minha pesquisa recente em TVE e outros assuntos correlatos. Apesar de algumas discordâncias técnicas, a troca de idéias com ele sempre foi respeitosa e, principalmente, proveitosa. Também tivemos a oportunidade de interagir socialmente. A foto acima é uma registro no centro de Pirenópolis.  Infelizmente, até mesmo a participação do Prof. Davison na EMR foi limitada. Sua agenda permitiu sua participação apenas no 1o dia do evento. Foi pouco...

Apesar de ter um equipe organizadora relativamente jovem, considerei boa a organização do evento. Achei elogiável a idéia de ter uma sessão inteira dedicada a jovens doutores e as premiações aos posters. Mas para atrair mais interessados até mesmo dentro da comunidade nacional, a programação precisa estar mais recheada de atrações. 

A programação completa do evento pode ser encontrada aqui.

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