terça-feira, 3 de março de 2020

Substancial apoio à pesquisa no Reino Unido


Algumas postagens recentes repercutiram dificuldades da Estatística nacional com respeito ao apoio à pesquisa na área. É sempre interessante contextualizar esse assunto com as experiências vividas em outros países. Cumpre ressaltar desde o início que as diferenças entre países devem ser sempre consideradas para melhor contextualização em qualquer comparação. 

Dito isso, acaba de ser divulgado no final do mês passado o plano que estará sendo implementado para apoiar desenvolvimento científico e tecnológico no Reino Unido para as Ciências Matemáticas. Esse plano tem várias vertentes mas alguns pontos chamaram a atenção. Em um marcante contraste com a realidade nacional, o valor do aporte de recursos é da ordem de 300 milhões de libras (cerca de 1,8 bilhões de reais) para os próximos 5 anos. Esse valor representou um aumento substancial com relação ao aporte anterior, da ordem de metade do aporte atual.  O segundo ponto é que o anuncio da liberação de recursos foi feito pelo próprio primeiro ministro britânico, numa clara demonstração da importância dada a esse tipo de iniciativa pelo governo daquele país. O terceiro ponto foi que o apoio foi implementado através EPSCR, equivalente britânico do nosso CNPq, para as Engenharias e Ciências Exatas. Finalmente, chama a atenção a forma que a RSS (a associação britânica de Estatística) postou esse anúncio, numa efusiva comemoração pelos recursos esperados. 

Tudo isso forma um contraponto significativo com o que estamos vendo no nosso país no momento, em particular com respeito ao apoio à pesquisa em Estatística. Vale destacar que os recursos foram alocados pelo EPSCR para as Ciências Matemáticas. Mesmo assim, esse anúncio foi muito comemorado pela comunidade estatística britânica pois esse aporte claramente contemplará de forma substancial essa área. É interessante apontar que Estatística e Matemática não pertencem ao mesmo comitê de avaliação no EPSRC, diferente da realidade naconal, mas isso não impede uma série de inciativas conjuntas entre essas áreas. Como exemplos desse tipo de iniciativas conjuntas temos o Instituto Isaac Newton de Cambridge, citado no anúncio feito pela EPSRC, e o Instituto Alan Turing, já mencionado aqui.

O apoio é bastante abrangente e inclui bolsas de estudos para doutorado e para pesquisadores em geral, apoio a pesquisa incluindo pesquisas multi-centro e apoio a participação de eventos em vários institutos voltados para esse fim que já existem no Reino Unido, como o Instituto Issac Newton supra-citado e o Centro Internacional para Ciências Matemáticas, de Edimburgo.

É claro que os orçamentos do Reino Unido e do Brasil não podem ser comparados. Também não dá para comparar a envergadura do desenvolvimento científico do Reino Unido com a do Brasil. Mas por isso mesmo vale a pena refletir sobre essa iniciativa, não necessariamente para ela ser replicada no Brasil. Pelo menos não em termos da magnitude dos recursos alocados à Ciência nos 2 países. Ela é um exemplo de como áreas distintas podem crescer de forma integrada. Existe espaço tanto para iniciativa isoladas quanto para iniciativas conjuntas, basta saber identificar adequadamente as instâncias. 

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