terça-feira, 2 de agosto de 2016

22o SINAPE

www.youtube.com/watch?v=53LELzF-gSc

Semana passada aconteceu em Porto Alegre a 22a edição do Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística (SINAPE). Entre de convidados internacionais, o destaque foi o Prof Sir David Spiegelhalter, da Universidade de Cambridge. Coube a mim a tarefa de fazer a apresentação de David para o público presente. Como havia espaço no horário, tive tempo suficiente para fazer uma apresentação abrangente e admitidamente romanceada da contribuição científica do Prof. Spiegelhalter. Com isso, fiz uma das apresentações mais longas de um palestrante que se tem notícia. Eu certamente nunca vi uma tão longa e ainda estou digerindo se essa é uma marca positiva ou negativa. Basicamente nessa apresentação destaquei os pontos que já havia mencionado sobre o David aqui no StatPop quando ele foi nomeado Sir pela Rainha Elizabeth II.

A palestra do David tratou de como reportar estatística para a sociedade, seu tema de maior interesse. Um ponto que ele chamou atenção foi de trazer os números para o mais perto possível do público em geral. ele foi particularmente crítico do uso de medidas relativas como o  risco relativo, muito usado por epidemiologistas. David sustenta que as pessoas tem muito mais empatia e compreensão de valores absolutos e deu vários exemplos. Um assunto mencionado na palestra foi um artigo recente que ele preparou para o jornal The Guardian, que será tema de postagem futura. A integra da palestra contendo boa parte da minha apresentação pode ser vista aqui. Durante os dias seguintes do evento fui procurado par várias pessoas elogiando muito a palestra.

Na última etapa desta edição, a palestra de encerramento foi proferida pelo Prof. Helio S Migon, que recebeu  o Prêmio ABE, a maior premiação da Estatística brasileira. Helio recebeu o prêmio por conta de sua vasta e diversificada contribuição para a Ciência e para a sociedade brasileiras. Fico feliz pela premiação, originada por uma indicação do Prof. Migon feita por mim, e endossada por colegas de várias outras instituições de prestígio espalhadas pelo país.

Mas nem tudo foram flores nesta edição do SINAPE. Fortemente impactada pela situação econômica que o país vive, agravada pela extremidade geográfica da localização da bela e acolhedora capital gaúcha, o número de participantes caiu dos usuais 700 participantes das últimas edições para algo em torno de 400 participantes. O encontro também contou com um número baixo de convidados internacionais. Além disso, chamou a minha atenção a presença muito baixa de pesquisadores dos principais centros de pesquisa do país e a baixa audiência nas sessões de comunicações orais. Nem mesmo as sessões envolvendo concursos de alunos, como a 1a edição do concurso de teses de doutorado escapou desse padrão.

Embora tenha havido uma série de mesas redondas, oficinas, tutoriais voltados para os usuários, o evento teve uma forte componente acadêmica. As edições do SINAPE em um passado cada vez mais distante eram o ponto focal de encontro dos acadêmicos do país na área. Lembro com saudade de animadas assembléias onde assuntos importantes para a comunidade eram discutidas. Acredito que outros eventos científicos mais especializados, como os Encontros Brasileiros de Estatística Bayesiana (EBEBs), acabam tomando parte desse espaço de troca de idéias mas imaginei que poderia ser mantido esse espaço geral onde poderiam ser encontrados pesquisadores de todas as tendências. Grande parte desses pontos já havido sido por mim observado na edição anterior do evento e reportado aqui.

Conversei com o Prof. Spiegelhalter sobre esse ponto. Ele irá assumir em janeiro de 2017 a presidência  da sociedade de estatística britânica, a Royal Statistical Society (RSS). Ele também tem essas mesmas preocupações, me disse que o mesmo está acontecendo com os encontros (anuais) da RSS e que tem interesse em reverter esse quadro. Comentamos que o encontro (também anual) da sociedade de estatística americana (ASA) apesar de ser gigantesco, com alguns milhares de participantes e dezenas de sessões de apresentações em paralelo, não sofre do mesmo mal e tem participação expressiva de pesquisadores expressivo da comunidade científica e do mercado de trabalho. Ele não soube explicar a fórmula do sucesso desses encontros mas concordamos que para as sociedades de estatística de nossos países valeria a pena descobrir. 

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